quarta-feira, 30 de março de 2011

Cartunista Brás em Homenagem ao Ex Vice Presidente Jose Alencar

JOSÉ ALENCAR E O ENSINAMENTO AO POVO BRASILEIRO


Não pude deixar de me emocionar ao ver os noticiários desta terça-feira, dando conta do falecimento do ex-presidente da república, José Alencar.

Sempre que meus pensamentos recaiam sobre ele, ao longo dos últimos anos, a mensagem era sempre a mesma: “eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor (...) Eu sou brasileiro e não desisto nunca”. E essa será sempre a imagem que dele terei. Penso que José Alencar não foi vencido pelo câncer, ao contrário, ele o venceu!

Não se trata aqui de uma nota açucarada, mas o reconhecimento do papel cumprido por um homem que ousou“traçar a sua história com plena consciência do que faz”.

Um sentimento desenvolvido em minha juventude – influenciada pela militância no movimento estudantil – é o de admirar meus pares. Pessoas que, como eu, fizeram opções por causas que nos levem a um mundo de mais igualdade. O tempo, a vida e a práxis, porém, nos ensina a amplitude e a complexidade desses sentimentos.

Em minha vida adulta, curiosa que sou das discussões acerca das classes sociais no Brasil, da luta de classes e da formação da consciência política, aprendi a respeitar e valorizar a trajetória de personalidades que, oriundas de diferentes classes sociais, se comprometem com a sua condição de classe. José Alencar, penso, foi uma dessas personalidades. Tanto que, fez a única opção possível: uma aliança com o povo ao se associar ao projeto de Poder desenhado pelos trabalhadores e liderado por um conjunto de forças personificadas pelo então operário, Luis Inácio Lula da Silva.

Lênin, ao tratar da conquista do Poder político pelo proletariado escreve que a arte do político e a justa compreensão de seus deveres “consiste, precisamente, em saber aquilatar com exatidão as condições e o momento em que a vanguarda do proletariado pode tomar vitoriosamente o Poder; em que pode, por ocasião da tomada do Poder e, depois dela, conseguir um apoio suficiente de setores bastante amplos da classe operária e das massas trabalhadoras não-proletárias; em que pode, uma vez obtido esse apoio, manter, consolidar e ampliar seu domínio, educando, instruindo e atraindo para si massas cada vez maiores de trabalhadores”.

Ouso considerar, portanto, que a participação de José Alencar no cenário de acirradas disputas políticas entre o projeto neoliberal e o projeto das forças progressistas e democráticas teve, historicamente analisando, um caráter pedagógico: educando, instruindo e atraindo, não necessariamente só as massas, mas sobretudo, a militância organizada dos movimentos sociais e dos partidos políticos que tinham grande dificuldade de compreender o que ressaltava Lênin, citando Marx, sobre a ideia de que a aliança do proletariado com a pequena burguesia poderia, em determinadas situações, representar um avanço na luta: “Se a união é verdadeiramente necessária, escrevia Marx aos dirigentes do partido, façam acordos para realizar os objetivos práticos do movimento, mas não cheguem ao ponto de fazer comércio dos princípios, nem façam “concessões” teóricas”.

José Alencar, um representante do empresariado, soube com muita precisão o momento exato de se colocar a disposição de sua classe, do Brasil e dos brasileiros. Sua aliança não implicou “comércio” dos seus princípios, uma vez que seguiu adotando postura propositiva e crítica, ao mesmo tempo.

A maior homenagem que qualquer brasileiro pode prestar a esse homem e sua família, nesse momento, é a reflexão de quão importante foi para todos nós a sua contribuição. O Brasil mudou, mas ainda não foi o bastante. É fundamental que os seus ensinamentos sirvam para continuarmos nos rumos da mudança, construindo um Brasil democrático e soberano, com um novo projeto nacional de desenvolvimento que abarque todo o povo brasileiro.

Marilane Costa – Mestre em Educação, Professora do IFMT e Membro da Direção Estadual do PCdoB.


quinta-feira, 24 de março de 2011

O PCDOB E A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO: MATO GROSSO EM FOCO

No dia 25 de março, o Partido Comunista do Brasil – PCdoB – completa 89 anos.
O usual, em datas comemorativas como essa, é ressaltar a importância histórica do homenageado, suas contribuições e baluartes. Não engendrarei por esse caminho. Muitos outros o farão por todo Brasil, até porque, o Comitê Central já aprovou o documento “Rumo aos 90 anos: História que alimenta os combates do presente”, que contempla essa análise.
Minha reflexão aqui se aterá – a título de uma singela homenagem –, apenas na tarefa de compartilhar a assimilação que faço das possibilidades de aplicabilidade da política empreendida pelo PCdoB nos últimos anos, sobretudo, a sua linha de estruturação partidária e o ousado Programa Socialista para o Brasil – aprovado em seu 12º Congresso. Este reforça o caráter estratégico do partido e delineia um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND).
No que concerne ao Programa, considero-o ousado, pois reconhece que “a nova luta pelo socialismo se dá num mundo em mudanças nas suas relações de poder no século XXI”. Essa admissão, por si só, não é pouca coisa para um partido comunista marxista-leninista. É fruto de uma grande acumulação. Mais ainda quando reforça que “seu objetivo é a transição do capitalismo ao socialismo nas condições do Brasil e do mundo contemporâneo”.
Quanto ao NPND, a sua ousadia se dá ao reconhecer os avanços ocorridos na última década no Brasil, ao mesmo tempo em que aponta que há um “patamar superior” que deve ser perseguido. Sua formulação apresenta as contrações estruturais e fundamentais da realidade brasileira e, também, as tarefas, conteúdo e principais bandeiras a serem empreendidas, dentre as quais cito o fortalecimento e a defesa da Nação, edificação de um Estado democrático, valorização do trabalho, superação das desigualdades regionais, emancipação das mulheres, proteção ao meio ambiente e defesa da cultura brasileira. Enfia o dedo na ferida, ao apresentar como esse Novo Projeto deve ser financiado e quais reformas – política, educacional, tributária, agrária, urbana, meios de comunicação, fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), seguridade social e segurança pública – são necessárias para a democratização da sociedade brasileira.
Não por acaso, para consecução de ousada propositura, é que no campo organizativo o PCdoB tem orientado a importância de seus membros mergulharem na luta de ideias, nos movimentos sociais e na disputa institucional. Vem traçando uma nova política de quadros capaz de atrair jovens, mulheres, trabalhadores, quadros da cultura, ciência e tecnologia e da academia. Pessoas que se identificam com a sua luta.
Em Mato Grosso, fundado oficialmente em meados dos anos de 1980, o PCdoB vive as contradições inerentes a qualquer outro partido político que tente se constituir e consolidar por essas bandas. A considerar as condições históricas na qual o estado está inserido, com a expansão do capitalismo e o processo de desenvolvimento que, segundo estudiosos, estiveram relacionados à estruturação do território, resultado dos processos de integração regional, com a inserção no contexto econômico nacional e voltado para os Programas de Desenvolvimento Regional a partir de 1970.
Mato Grosso entra no século XXI ainda como um fornecedor de matéria-prima e vivenciando, fortemente, todos os problemas estruturais apontados no NPND do PCdoB, que aqui tento traduzir: um estado periférico, alvo de investidas do grande capital internacional, principalmente no campo; grandes defasagens entre trabalho e renda (profunda desvalorização do trabalho, com sistemáticas ocorrências de denúncias de trabalho escravo e infantil); desigualdades sociais, expressas em barreiras à emancipação das mulheres, preconceitos e discriminações de várias ordens; degradação ambiental; vulnerabilidade da cultura; enfim, um estado conservador.
Ao mesmo tempo, Mato Grosso possui o que se tem de melhor: o seu povo. E é a esse povo –”temperado por conflitos e lutas”, ocorridas na Baixada Cuiabana, no Vale do Araguaia ou do Guaporé, nas margens do Rio Vermelho, no Pantanal, Nortão ou de qualquer outro cantinho desse estado – que o PCdoB, no alto de seus 89 anos, deve convidar para conhecer a sua história e sua política. Mais ainda, deve convidar para “ousar lutar e ousar vencer” Superando as debilidades apontadas e construindo um Mato Grosso e um Brasil mais generoso com os seus filhos. Viva o Partido Comunista do Brasil!

Lane Costa – Professora, Membro da Direção Estadual do PCdoB e Mestra em Educação pela UFMT