sexta-feira, 29 de abril de 2011

POR UM 1º DE MAIO FESTIVO POR UM 1º DE MAIO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

Há quase duas semanas, venho tentando refletir sobre algumas temáticas que me inquietam.

Primeiro, pensei em escrever sobre trabalho, o tema está presente nas disciplinas que ministro na licenciatura. Depois, tentei iniciar um texto falando sobre o 1º de maio em Mato Grosso. Por diversas vezes iniciei, parei, deletei e, eis que dois fatos me instigaram a concluir essa digressão: o primeiro foi o artigo do jornalista Kleber Lima dessa semana – Tempo alvissareiro – e o segundo, a paralisação e manifestação dos servidores públicos federais ocorrida nesta quinta-feira (28 de abril), que ganhou as ruas de Cuiabá.

Minha intenção é ponderar sobre os temas que são abordados pelo jornalista e que já me intrigavam desde que vi as primeiras chamadas, na TV, para as comemorações do 1º de maio – dia do trabalhador – no estado.

Quando li seu artigo, imediatamente me lancei à busca da obra Teoria dos movimentos sociais – Paradigmas clássicos e contemporâneos – de Maria da Glória Gohn que sabia estar perdida em minha estante. Estou relendo para retomar algumas contribuições, uma vez que a leitura inicial ocorreu quase 10 anos atrás. De toda forma, não divirjo de que as instituições sociais estão em transformação. Logo, compreendo, não é uma “nova sociedade civil que emerge no planeta”, mas sim, uma que se transforma com características diferentes da “sociedade civil tal qual a conhecemos”, assumindo novas formas de ação e vivência em decorrência de necessidades que são do nosso tempo, do nosso momento histórico.

Concordo também que, em se tratando do movimento sindical em geral e de Mato Grosso, muita coisa mudou nos últimos 40 anos. Isso porque, segundo Ricardo Antunes, a globalização, a reestruturação produtiva e a crise que o movimento operário enfrenta desde a década de 1970, têm grande intensidade e atingiu “a materialidade e a objetividade do ser-que-vive-do-trabalho” sua “consciência de classe, afetando seus organismos de representação, dos quais os sindicatos e os partidos são expressão”.

Ainda que nos últimos 08 anos, após uma intensa ofensiva neoliberal, os trabalhadores tenham aberto um período de maior valorização do trabalho e do trabalhador, é certo que o neoliberalismo não foi derrotado. Ele ainda vive e aspira um retorno triunfal. E eis onde reside outra preocupação: assim como o governo Lula, o da presidente Dilma também é um governo de disputas entre as forças. Vencerá essa parada, quem tiver maior poder de mobilização.

Infelizmente, parece-me que nesse primeiro momento, não são os trabalhadores quem tem levado a melhor: o governo cortou 50 bilhões de reais do orçamento; de novo assistimos a pressão por conta da volta da inflação, das altas taxas de juros, do ajuste fiscal; projetos que flexibilizam conquistas e privatizam, gradativamente, a educação e a saúde voltam à pauta. Políticas sociais são secundarizadas em detrimento da política econômica. No plano estadual, a lógica se repete.

Na era de grandes avanços tecnológicos é natural que a criatividade também precise ser reinventada para tocar as “mentes e os corações” dos brasileiros, dos trabalhadores. Não sou, absolutamente, contra eventos de massa, que mobilizem milhares e milhares de pessoas, que tragam alegria, festa, diversão e, porque não, prêmios!

O que chama atenção, porém, nas atividades convocadas para o 1º de maio no Mato Grosso é o fato das entidades, diga-se as Centrais Sindicais, abdicarem de, nesse processo, tratar da elevação do nível da consciência política com um caráter político-pedagógico, “inserindo as lutas que nascem espontaneamente num direcionamento revolucionário que capte a totalidade das relações sociais e busque a sua superação”, conforme abordado por Lênin e outros.

Tive o cuidado de buscar nos sítios de todas as Centrais no estado (ou dos sindicatos ligados a elas); ouvir as entrevistas concedidas pelos dirigentes, assistir as chamada na TV, buscar panfletos (in)formativos que cumpririam esse papel, mas, nada encontrei além do convite para as atividades com uma nota de roda-pé (as vezes nem isso, como no espaço publicitário do jornal A Gazeta).

Outra Central, que não integra o pool de entidades promotoras do show, transferiu sua comemoração para o interior do estado – não que o interior não o mereça, mas é na capital que o protagonismo dos trabalhadores ganha visibilidade.

Penso ainda, que às vésperas do 1º de maio, as Centrais, todas elas, perderam uma oportunidade impar de utilizarem as diversas manifestações que ocorreram no estado para imprimirem esse caráter político-pedagógico ao qual me refiro, uma vez que, se ausentaram das mesmas: os professores da rede pública estadual paralisaram por 01 dia; outros segmentos estaduais realizaram atividades específicas e, inclusive, fecharam acordos coletivos; servidores da saúde municipal pressionaram vereadores e ocuparam a prefeitura; servidores federais paralisaram, o IFMT e UFMT realizaram a maior manifestação pública de rua ocorrida nos últimos 08 anos (salvo engano), por servidores federais contra políticas conservadoras e neoliberais.

Por fim, penso que a lição desse 1º de maio que deve ficar, para todos os trabalhadores e dirigentes de Mato Grosso é que, buscar alternativas criativas de mobilização é importante, mas de nada adiantará se não ocorrer, concomitante e continuamente, um processo de conscientização, sob pena de cair no obscurantismo.

Marilane Costa – Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisas “As Vicissitudes da Sociedade Brasileira” (IFMT/ UFMT/ UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB.

A Ética e a prática do jornalismo

Todo cidadão que decide investir na carreira de jornalismo deve entender que, uma vez profissional, está ali para informar a população, podendo constituir, subsidiariamente, uma fonte de distração e entretenimento. Se a função do jornalista é informar a sociedade, então significa que, em primeiro lugar, que a coisa mais importante dos meios de comunicação, a única coisa mais importante são as suas notícias (principalmente os profissionais de Rádio e Televisão, que são concessões públicas, portanto, pertence ao povo, claro). Não são as suas emoções. Os jornalistas não é a notícia, e, embora pese a crescente pressão motivada por uma concorrência feroz entre os chamados Mass Media(*), não deve nunca confundir-se com ela.
Sendo os meios de comunicação, concessões/empresas, que produz e divulga informações e notícias, não pode servir interesses criados, nem outros interesses, a não ser de informar. O jornalista não serve para desacreditar pessoas ou instituições, pagar favores, perseguir inimigos, encetar campanhas, comprometer-se com ações de propagandas ou servir de trampolim para se atingirem fins velados de natureza pessoal.
A única coisa que o jornalista faz, de forma rigorosa e fundamentada é divulgar fatos atuais de interesse geral - as notícias. Se, eventualmente, tais fatos, desacreditam ou abonam a favor de pessoas ou instituições, é algo que cumpre aos leitores concluírem a partir da leitura dos tais fatos que os meios de comunicação noticiam.

A verdade é que acaba sendo um pouco decepcionante ter que usar as palavras "investir" e "carreira" na mesma frase em que se descreve a prática do jornalista. Pois a mídia, no sistema capitalista, se submete ao mercado. É um bem da vida com valor comercial apurável. Assim, o que interessa mesmo é a versão, nem sempre o fato. Sabe- se que o jornalista se exerce por uma profissão exposta a grandes tentações... A começar pelo salário que, por ser defasado, submete o profissional a prevaricação. Na era em que a informação é dinheiro, custa crer que o interesse econômico se subordinará aos cânones éticos. Mas infelizmente o distanciamento daquilo que parecia ser o sentido democrático original do jornalismo - a liberdade de expressão - faz com que a atividade de jornalista tenha servido muitas vezes para dar continuidade aos projetos do monopólio de políticos e famílias dominantes: assim como a chamada “propriedade cruzada" (quando um mesmo grupo ou família pode ter TV, rádio, jornal e revista, e reforça as relações entre grupos de mídia e as oligarquias tradicionais), em inúmeros casos, principalmente em pequenos municípios, o ‘trono’ é quase hereditário, já que, no geral, as mesmas famílias e políticos obtém todos, ou quase todos, veículos de comunicação.

Moral da história: a lei da ética

É bem verdade que a linha que separa a moral, a lei e a ética é naturalmente muito tênue. No entanto, é preciso entender que cada um desses conceitos trata de situações bem específicas: em termos gerais, a moral se detém à obediência das regras de conduta, costumes e normas universais; as leis se baseiam na moralidade para estabelecer parâmetros de comportamento aos membros de uma sociedade; e a ética é o que orienta as pessoas com o objetivo de se chegar ao bem coletivo a partir das práticas individuais, através da capacidade de cada um de julgar o que é “bom” ou “mau”.

Assim, fica fácil entender que nem sempre o que é legal é ético, do mesmo modo que nem tudo que é ético necessariamente deve ser legal. E é aí que se origina grande parte do esvaziamento da prática do jornalista – uma atividade social que se encontra bem no meio desses conceitos –, por conta da supervalorização das questões legais em detrimento da ética.

Ou seja, no âmbito do jornalismo é muito comum que as medidas ‘corretas’ ou ‘justas’ sejam tomadas muito mais para evitar uma eventual responsabilização criminal e civil (quando muito) do que por se tratar de uma motivação pela ética. Exemplo são os chamados "direito de resposta".

Enfim, para concluir, é preciso entender que mesmo não sendo sempre uma exigência legal, a ética é, sim, algo ‘legal’ de se praticar. E mais legal ainda é que nós, ‘juízes’ legítimos do jogo democrático (o povo), estejamos atentos a esse tipo de prática, já que em muitos casos a tenuidade da situação, além de alguns outros fatores, impede que o pulso da Justiça atue de maneira efetiva.

Em suma, como vivemos em uma sociedade governada pela informação, cabe a nós, pelo menos, enquanto não se abrem ou não se melhoram os caminhos efetivos para uma participação mais direta, no acesso e produção das informações, identificar os veículos de comunicação que não têm os deveres do compromisso e da independência, para assim barrar o projeto deles (empresários da mídia) de se tornarem os donos da verdade para a população, como muitos ainda pretendem ser. Afinal, é o povo quem detém os espaços das rádios e TV’s, e abrem as concessões para terceiros, ocupar estes espaços. Pois, pelo menos em tese, o povo que é o verdadeiro dono da democracia. Em tese.

* O termo mass media é formado pela palavra latina media (meios), plural de medium (meio), e pela palavra inglesa mass (massa). Em sentido literal, os mass media seriam os meios de comunicação de massa (televisão, rádio, imprensa, etc.). Porém, esta denominação sugere que os meios de comunicação são agentes de massificação social, o que nem sempre está de acordo com a realidade social observável.


Pablo Rodrigo Ramos – É jornalista em formação pela UFMT, Membro do Conselho Estadual de Educação – CEE-MT e Membro da Comissão Política do PCdoB - MT

domingo, 17 de abril de 2011

Ainda somos camaradas?

O que significa camaradagem? Significa amizade? Significa irmandade? Significa companheirismo? A semântica, a parte da gramática que estuda o significado das palavras, pode considerar, na sinonímia, um de seus ramos, que são estas palavras com o mesmo significado. Um exemplo simples está na música de Roberto Carlos: “Você meu amigo de fé meu irmão camarada, amigo de tantos caminhos (...) Me lembro de todas as lutas meu bom companheiro, você tantas vezes provou que é um grande guerreiro”.

Isso na gramática, na literatura, na música, na poesia. Em política, não. Especialmente em partidos políticos, também não. Aqui uma palavra tem mais que significados: possuem emblemas e são emuladoras de condutas ideológicas. Portanto, quando se trata de política e ideologia convém ter o máximo de cuidado, especialmente ao ser proferida por um líder. Quando algumas palavras são empregadas na condução política elas podem mostrar como símbolos de que a prática teve outro direcionamento.

Minha intenção com este texto é provocar um debate acerca do novo tratamento que vem sendo introduzido –sub-repticiamente, a meu ver – no seio partidário. Isso me incomoda e tem incomodado a muitos camaradas com os quais venho trocando impressões a respeito.

Tenho como sintomático que junto com essa nova forma de tratamento, que lembra os petistas, tenha havido alguns encaminhamentos coincidentes nos últimos anos. Uma delas foi a decisão do último congresso de introduzir o voto secreto para escolhas das instâncias partidárias. Desprezou-se com isso a prática da honestidade política, com a exposição de posições claras e definidas sobre cada membro-candidato, com a crítica e a autocrítica, com o debate franco, aberto. Jogou-se fora o exercício da camaradagem, em suma.

A nossa anterior forma de escolha das direções partidárias era uma de nossas diferenças políticas ante as práticas burguesas e oportunistas. Era uma das marcas do fazer política com honestidade, sem os vícios maléficos da prática dos partidos tradicionais da política tradicional, antidemocrática. Pretendeu-se ampliar a democracia partidária, mas na prática o que se assiste é o trilhar de um caminho perigoso.

Um exemplo: participei da última conferência regional de Mato Grosso, onde morei, em Cuiabá, até outubro de 2010. O que se viu lá foram manipulação da lista de candidatos, articulações, barganhas e concessões inaceitáveis para um partido político como o nosso. Alguns que desejavam ansiosamente ocupar postos na direção se lançaram a negociações vergonhosas. Por outro lado, municípios que conseguiram mobilizar bancadas maiores, com delegações compostas com recém-filiados eleitos pelo mesmo critério em suas conferências municipais, jogaram mais peso na conferência estadual e foram alvos dessas articulações e barganhas. O que viram esses novos filiados não foi nada diferente do que muitos deles assistiam em seus partidos de origem, alguns oriundos do espectro da direita ou oportunistas de partidos de esquerda (aliás, abandonamos por completo os critérios de aquisição partidária).

Que tipo de educação está dando para esses novos militantes?

Aqui no Distrito Federal, onde nasci e moro atualmente, muitos pensam no partido como um trampolim para cargos nas esferas federal e distrital. Quando cheguei e busquei iniciar minha militância em Taguatinga, cidade-satélite onde resido e onde vivem membros de minha família desde antes da inauguração de Brasília, comecei contatos com vários militantes de lá. Insistia que tínhamos que nos organizar e a resposta que ouvi de muitos, em geral novos filiados, era que se assim o fizéssemos teríamos mais força para conquistar cargos no governo.

Por outro lado estranhei o fato de ter sido ignorado e até desprezado por alguns militantes antigos e membros da direção. Depois descobri que havia o temor de que eu ocupasse o lugar deles. Parece uma bobagem, mas foi isso que ouvi da quase unanimidade das pessoas com as quais me queixei. Quer dizer, antes um novo militante que chegasse com vontade de ajudar a organizar o partido era saudado com alegria e entusiasmo. Hoje ele é visto como concorrente. Como um intruso em seu feudo político.

Outro exemplo absurdo. Quando cheguei há sete meses fui à sede do partido para conhecer e me apresentar aos camaradas. Como sou jornalista me propus ajudar na área de comunicação do partido. O camarada que me atendeu, que é da direção de uma das cidades-satélite, não entendeu nada e mandou-meeu deixar o currículo, pois se tivesse algum deputado ou senador do partido precisando de jornalista ou se tivesse alguma vaga no governo Agnelo ou no governo Dilma me chamariam. Ora, eu estava ali me colocando como militante e não procurando emprego! Quando voltei para Brasília vim com emprego e sou remunerado o suficiente para me manter e a minha família. Depois descobri que essa era a rotina da sede do PC do B: receber diariamente dezenas de pessoas pedindo emprego. Era novembro de 2010, Dilma e Agnelo tinham acabado de vencer no segundo turno e os nossos novos filiados e até antigos militantes estavam todos afoitos, enlouquecidos em busca de uma boquinha nos governos federal e distrital.

Que tipo de educação estamos dando para nossa militância?

Aliás, onde está a nossa militância em Brasília? Não a temos organizada. O partido no Distrito Federal não tem organização nenhuma. Pelo menos do tipo leninista que aprendemos e defendemos. Ou teremos que também abandonar esse tipo de organização para abraçarmos a outra forma que leva muitos a só desejar cargos nos governos e se apegar às direções?

Expressei minha preocupação a um antigo militante partidário, que foi parlamentar e membro do Comitê Central. A sua resposta foi tão desanimadora como assustadora: “Sabe aqueles bancos que não têm agências para atender as pessoas? São chamados de ‘bancos aéreos’, que ficam nos andares superiores dos edifícios e só cuidam de investimentos? Então, o PC do B aqui é assim. Não precisa de bases”. Inacreditável, mas foi o que o camarada me respondeu.

O nosso partido está se conduzindo por um fisiologismo puro e simples. É cruel a constatação, mas só não vê quem não quer. O documento que conclama o Encontro sobre Questões do Partido, trata, a meu ver, eufemisticamente desse tema. È certo que tais preocupações ocupam o Comitê Central, em especial a Secretaria de Organização. A iniciativa é de extrema importância para a organização partidária. Mas penso que esse debate tem que ser mais aberto.

É sintomático, por exemplo, a prática sempre recorrente dentro de nosso partido em relação às alianças políticas e as negociações de cargos. É lícito exigir cargos numa negociação política? Sim, é! Somos um partido político, uma força política e se estamos nessa atuação institucional é legítimo termos a responsabilidade por também governar. Mas isso não pode ser a única finalidade em nossa prática política cotidiana.

Acredito que todos esses direcionamentos que o PC do B vem adquirindo não contribuem para a construção do novo homem que tanto defendemos. Ou não defendemos mais isso?

É nesse bojo que vem a insistência de alguns camaradas, infelizmente do Comitê Central, em trocar o nosso tratamento para “companheiros e companheiras”

Quando os reformistas em 1961 acabaram com o Partido Comunista do Brasil e criaram o Partido Comunista Brasileiro, que significado adquiriu a palavra “brasileiro” aí? Ela foi o emblema das novas posturas políticas e ideológicas dos antigos camaradas. Se não o fosse, nossos verdadeiros camaradas não teriam reorganizado o Partido Comunista do Brasil em 1962, resgatando o “do Brasil”. Parece simples? Mas seria conveniente observar toda a simbologia do resgate desse nome. Quando a Ação Popular teve que incorporar a composta “marxista-leninista” em seu nome, que significado teve esse novo nome na gloriosa organização que viria mais tarde se incorporar ao PC do B em 1972?

Quando deixamos de ser camaradas e passamos a ser “companheiros”, como Lula chama seus colegas de partido e até o grande empresariado com o qual se articulou ou não em seu governo, que significado tem isso? É uma bobagem? É algo subjetivo? É saudosismos dos que, como eu, ingressaram no partido ainda no final da década de 70?

Penso que, mais que a questão semântica trata-se uma inflexão que abriga uma estratégia que ainda não entendi e por ainda não entender fico imaginando ser uma nova conduta política e ideológica. E, o mais grave, uma nova orientação que não está sendo discutida abertamente dentro do partido. E isso é desonesto para com o conjunto da militância. É, em suma, um desvio ideológico e um emblema dos métodos de direção que transparece no cotidiano partidário.

Se continuarmos assim, logo deixaremos de ser o “Partido do Proletariado” e passaremos a ser o “Partido dos Trabalhadores”. Do ponto de vista da semântica não há problema nenhum.

João Negrão, militante do PC do B

terça-feira, 12 de abril de 2011

GUERRILHA DO ARAGUAIA:A ATUALIDADE DA UNIÃO PELA LIBERDADE E PELOS DIREITOS DO POVO

“Nem tudo é tudo quando abril desce. Nem tudo é tudo quando abril floresce. Nem tudo é susto quando abril se tece”.

O dia 12 de abril é dedicado a um episódio da história brasileira pouco divulgada: A Guerrilha do Araguaia.

Movimento armado que ocorre da necessidade de se enfrentar a ditadura militar, a Guerrilha teve lugar no sul do Pará e na região do Bico do Papagaio (então GO), entre os anos de 1967, quando começa a se organizar e, 1974 quando se finda.

Adalberto Monteiro, no Prefácio da 4ª Edição de “Guerrilha do Araguaia – Uma epopéia pela liberdade” ressalta que “Na história do Brasil, os oprimidos, na maioria das batalhas que travaram, tiveram que empreendê-las duas vezes – a primeira, para protagonizar a resistência, a luta, a conquista, o fato histórico em si; a segunda, para divulgá-lo, fazê-lo reconhecido oficialmente e conhecido do conjunto da nação”. E os últimos anos têm sido destinados a sua divulgação, ao reconhecimento oficial – principalmente com a abertura de seus arquivos – do que reivindicavam os heróis que ali tombaram.

Chama minha atenção, entre os diversos documentos publicizados, a “Proclamação da União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo – ULDP”. Apesar do tempo decorrido, verifico, ainda é um documento atual e pertinente para quem, como nós, vivemos no Centro-Oeste brasileiro, num estado – Mato Grosso – que ainda que se diga rico, sofre, contraditoriamente, com o atraso e problemas estruturais.

De forma sucinta, os Guerrilheiros do Araguaia manifestavam as dificuldades enfrentadas pelo povo pobre que vivia no interior do país, no norte e nordeste, em regiões como o Pará, Goiás e Mato Grosso que, viviam na ignorância e no abandono.

A terra estava concentrada nas mãos de uma minoria; os camponeses, quando não expulsos de sua terra, labutavam ao lado de mulher e filhos sem resultados suficientes para atender as necessidades mínimas e, se conseguissem uma boa safra, não tinham como transportá-la; essa situação era agravada pelas enfermidades, uma vez que não havia médicos, medicamentos e, a alimentação era precária; não havia escolas, professores e, poucas pessoas sabiam ler ou escrever; os impostos eram exorbitantes e não retornavam como serviços, até porque, as prefeituras do interior não possuíam dinheiro ou autonomia; a falta de empregos e perspectivas levava as pessoas a abandonarem as pequenas cidades em busca de trabalho; a violência e arbitrariedades já presentes na vida desse povo se intensificam com a ditadura militar.

Esse quadro levou à seguinte questão: “Que deseja o homem do interior?” Respondiam: Terra para trabalhar e título de propriedade de sua posse; Facilidade para deslocamento da produção através de diferentes meios de transporte e financiamento; Proteção à mão-de-obra dos que trabalham nos castanhais, na extração da madeira ou nas grandes fazendas; Regulamentação das atividades dos garimpeiros; Redução de impostos que recaem sobre o trabalho da terra e sobre o pequeno comércio; Assistência médica por meio de postos instalados em zonas e distritos; Criação de escolas nos povoados; Fim da arbitrariedade da polícia contra o povo; Proteção à mulher, ajuda à maternidade; Trabalho, instrução e educação física para a juventude, ajuda à criação de clubes, centros recreativos e culturais; Respeito a todos os religiosos; Liberdade para reunir-se, discutir seus problemas, criticar autoridades, exigir seus direitos, organizar associações, eleger, sem pressões seus representantes.

Militarmente a Guerrilha fracassou, mas deixou ensinamentos. Mais de quatro décadas depois, em que pese as profundas transformações vividas pela sociedade brasileira, com o fim da ditadura militar e a redemocratização do país, a ofensiva neoliberal e a experiência de 08 anos de um governo popular, a união pela liberdade e pelos direitos do povo continua sendo uma necessidade, pelo menos em Mato Grosso.

Unir o povo e os trabalhadores desse estado (lavradores, vaqueiros, garimpeiros, peões, pequenos e médios comerciantes, juventude, homens e mulheres, “todos que querem o progresso da região e a felicidade de seus habitantes”) em torno de reivindicações como: emprego de parte dos impostos arrecadados para o desenvolvimento das cidades; elaboração de planos de urbanização e desenvolvimento em todas as cidades, com construção de estradas, pavimentação de ruas, instalação de luz e água, serviços médicos, manutenção de escolas, construção de casas; defesa da agricultura familiar e da terra indígena com respeito a seus hábitos e costumes; obrigação de reflorestamento; apoio a iniciativas de caráter progressista, à pequena e média indústria e ao artesanato e a criação de postos efetivos de trabalho não é saudosismo ou algo já superado. É o que está colocado, ontem e hoje, para um estado que pretende próspero.



Marilane Costa – Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisa As vicissitudes da Sociedade Brasileira (IFMT/UFMT/UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

POR UMA CUIABÁ PRÓSPERA, BELA E HUMANA

No aniversário de 292 anos de Cuiabá, resolvi expressar meu carinho por essa cidade, na qual cheguei ainda adolescente, trazendo à baila o debate do que seria uma Cuiabá próspera, bela e humana.

Inspirada na Revista Princípios, edição nº 97, de agosto de 2008, que estampava em sua capa “As cidades podem vencer”, numa alusão não só a Carlos Drummond de Andrade, mas ao debate que se anunciava em seu editorial: “Um país forte se ergue em cidades prósperas, belas e humanas”, resolvi refletir sobre a cidade de Cuiabá a partir dos artigos e autores ali constantes que, sob diversos aspectos, defendem a necessidade de uma reforma urbana que considere: a relação entre a cidade e o campo; a história da formação da cidade e da propriedade privada; a valorização do espaço público e a habitação; o transporte público coletivo como fator de democratização dos benefícios urbanos; a escassez de água potável; a valorização do planejamento e do urbanismo em médio e longo prazo.

Traduzir minha inspiração em uma contribuição pareceu-me fácil quando pensei em todos os aspectos que me seduziram nessa cidade: sua gente, sua cultura, seu calor, suas águas, a capital com jeito de interior. Mas, extremamente difícil quando me lembro da irritação que sinto quando utilizo o transporte coletivo, sempre lotado; do lixo que se acumula na porta de meu prédio; dos buracos nas ruas; da gradativa diluição da cultura cuiabana em detrimento da valorização de uma cultura para o povo e não do povo; da falta de saneamento básico; do pouco investimento em educação e do caos na saúde. Mais difícil ainda, ao refletir na perspectiva dos milhares de trabalhadores que habitam a periferia dessa cidade. Ali a situação é de completo abandono.

Penso que num momento em que discutimos um novo projeto nacional de desenvolvimento, Cuiabá não pode mais ficar aprisionada a um modelo de desenvolvimento urbano que “privou as faixas de menor renda de condições básicas de urbanidade e de inserção efetiva à cidade”.

Tenho acompanhado, através dos meios de comunicação, os dilemas e problemas em torno das ações e dos preparativos para a Copa de 2014. Inclusive, vi um time de trabalhadores, paramentados em camisetas amarelas, na rotatória da UFMT, pondo a mão na massa, literalmente (e só espero que essas ações não fiquem restritas “onde o padre pisa”). Isso é bom, Cuiabá está necessitada e, quer dizer que finalmente, a máquina está em movimento, porém não é o bastante.

O que percebo nesse processo, é a ausência de um planejamento articulado e integrado, de médio e longo prazo, envolvendo poder público, empresariado e com a participação popular – condição imprescindível para que os interesses do conjunto da sociedade e dos trabalhadores sejam respeitados.

Se a Cuiabá do século XIX se modernizou, conforme evidencia a professora Elizabeth Madureira, a Cuiabá do século XXI precisa se tornar próspera, bela e humana. Mas, isso só será possível se o nosso povo e dirigentes compreenderem, entre outras coisas, que o transporte coletivo está relacionado ao direito de ir e vir e deve ter qualidade, regularidade, ser confortável e suficiente; tarifas devem ser barateadas e ciclovias construídas.

O saneamento básico – protagonista de uma verdadeira cena de novela de horário nobre – deve primar pelo abastecimento, sem interrupções, de água potável, coleta e tratamento de esgoto, coleta e tratamento de resíduos sólidos e de manuseio das águas fluviais. Acredito que isso faria um bem danado para os nossos lindos córregos e rios, especialmente o Rio Coxipó e Rio Cuiabá.

A cultura, segundo Célio Turino, é o fio condutor que une o direito à saúde, ao transporte, à moradia, à escola, ao trabalho e só com ela “conduziremos nossa sociedade à igualitária democracia, recolocando os cidadãos no caminho da emancipação humana”. E o povo cuiabano está desejoso que a sua cultura adquira centralidade, expressas em políticas públicas, pois sabem da necessidade de sua difusão e circulação.

Acho que é essa a Cuiabá que perseguimos; “tchapa e cruz” ou “paus rodados”, queremos continuar amando essa cidade, comendo peixe no São Gonçalo, admirando o Rio Cuiabá, atravessando a Prainha, cantando e dançando o Siriri/Cururu, ouvindo rasqueado, a viola de coxo e repetindo “eu me orgulho de ser um cuiabano...”. Com qualidade de vida!

Marilane Costa – Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisa As vicissitudes da Sociedade Brasileira (IFMT/UFMT/UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB.

sábado, 2 de abril de 2011

A Comuna de Paris

Nesse mês de Março comemora-se 140 anos da Comuna de Paris. Considerado como o primeiro governo operário durou apenas algumas semanas. O poder operário instaurado na cidade de Paris resistiu de 26 de Março a 28 de maio de 1871.A pauta de reivindicações da comuna eram singelas vistas com os olhos de hoje. Reivindicava-se coisas como o limite de oito horas de trabalho,separação entre estado e igreja, legalização dos sindicatos e fim do trabalho noturno. É fato que muitas dessas conquistas acabaram sendo assimiladas posteriormente pela ordem burguesa. Hoje parte dessas reinvidicações fazem parte das conquistas históricas dos trabalhadores. A comuna foi esmagada por tropas da burguesia que executou a céu aberto mais de vinte mil trabalhadores, transformando as ruas de Paris em um cemitério a céu aberto. Nosso profundo respeito aos que tombaram nas lutas dos trabalhadores. Bela e justa lembrança. Viva a memoria da Comuna de Paris

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Transformações no mundo trabalho e sindicalismo no Mato Grosso

As transformação no mundo do trabalho e os reflexos no sindicalismo de Mato Grosso esse é o titulo da Dissertação de Mestrado que o jornalista Miguel R. Neto defendeu perante a banca examinadora do Programa de Pós Graduação em Politica Social da UFMT formada por Isabel Cristina Dias Lira ,Ivone Maria Ferreira da Silva (orientadora) e Manoel F. V Motta.