quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Corrupto da Vez


Não consegui entender o "linchamento" moral e político do diretor do DNIT Luiz Antonio Pagot mesmo depois de sua fala no Senado e na Câmara. Depoimento realizado de forma espontânea publica e no fórum adequado. O que esperavam dele? Um depoimento sensacionalista, leviano cheio de insinuações a moda da revista Veja sem provar nada?
Bobagem isso não aconteceu nem quando o congresso promoveu um verdadeiro festim de encenações histriônicas quando alguns parlamentares de oposição ao governo Lula interrogavam os depoentes com um fervor digno de um espetáculo teatral de circo mambembe. Por ironia da historia os que apareceram naquele momento como arautos da moralidade publica permanecem como parlamentares inexpressivos. E segundo reportagem da revista Carta Capital tentando sofregamente passar para a base do governo Dilma.
Quem analisar sem paixão o seu longo depoimento nas duas casas perceberá que ele se ateve a dois eixos de argumentação: o primeiro é que todas as decisões eram colegiadas e o segundo era o que de todos os procedimentos eram fiscalizados e acompanhados pelas instituições designadas para esses fins. Com dados objetivos foi sendo mostrado aos congressistas detalhes de como estavam sendo tratado cada um dos problemas apontados. Não me lembro de nenhuma contestação relevante ao que foi apresentando por nenhum parlamentar das duas casas. Alem do mais nenhuma pergunta ficou sem resposta.
O que interessa agora é saber se os seus argumentos são verdadeiros ou falsos.

Com o fortalecimento da sociedade civil pós ditadura foram sendo criadas, ou fortalecidas, instituições de regulação e controle que tem o papel de inibir que corporações, empresas ou indivíduos em articulação com os grupos políticos - ideológicos no poder se beneficiem indevidamente da massa de recursos financeiros posto a disposição da sociedade pelo Estado. Recursos que devem servir a implementação de políticas publicas e de investimento e custeio da estrutura do estado. E o caso de órgãos como os Tribunais de Contas, do Ministério Publico e das Controladorias. Se não funcionam é o caso de perguntar com já se fazia no século XIX quem vigia o vigia quando esta em pauta os interesses econômicos em uma sociedade organizada segundo regras inspiradas no liberalismo econômico, social e político.
Quando cursava o ensino médio lá pelos anos sessenta do século XX estudando a revolução francesa aprendi com a trajetória de Robespierre que essa historia da condenação da corrupção de forma emocional pode conduzir a julgamentos que desprezam os fatos, produzindo injustiças e no limite ao arbítrio do terror. Lembro que por essa época, para ser mais preciso Dezembro de 1968, um dos argumentos para o AI-5 era o combate a corrupção. O que se viu depois foram anos de arbítrio e de corrupção.
Outro dado importante em seu depoimento foi o de que essa autarquia vem sofrendo um acelerado processo de precarização de seus quadros técnicos em contrapartida a ampliação de suas responsabilidades e da grandiosidade das tarefas que lhe estão atribuídas. Ninguém lhe contestou. É bom lembrar que esse processo de precarização dos aparatos estatais é o resultado de uma visão político - ideológica que considera que investir na profissionalização do funcionalismo contratando quadros técnicos qualificados e com salários compatíveis com sua formação é desperdiçar o dinheiro publico, é inchar a maquina do estado.
É evidente que corporações, empresas e indivíduos financiem candidaturas identificadas com seus interesses políticos e econômicos. As chamadas bancadas de interesses como a ruralista, para falar só de uma das mais conhecidas, tem suas candidaturas e os seus partidos financiados prioritariamente por esse setor da economia. Com a construção civil não é diferente.
É republicano e democrático que corporações, empresas e indivíduos financiem os partidos e as candidaturas, nos limites e parâmetros da legislação, que contemplem seus interesses. A não ser que se mudem as regras atuais de financiamento de campanhas e elas passem a ter financiamento publico. Fazer de conta que isso não acontece, ou não existe é ingenuidade ou hipocrisia.
Não sei qual o propósito ou o alcance da tal “faxina” que a presidenta Dilma afirma que está realizando no ministério dos transportes. Tudo bem mãos a obra presidenta. Agora em que lugar ele vai encontrar a legião de anjos, acima do bem e do mal, tecnicamente neutros capazes de tomarem decisões justas e desinteressadas sem qualquer viés político ou econômico é que vai ser difícil. Sem novidades.
Tudo bem concluído o “fora Pagot” logo, logo outro grande corrupto vai estar na vitrine para a execração dos incorruptíveis de plantão nas redes sociais, blogs e mídia de oposição ao governo. Bom mas isso faz parte do jogo de aparências e das querelas ideológicas. A questão agora é saber quem será o herdeiro deste espolio que o PL esta deixando escapar de sua área de influencia política
O resto é cretinice do jornalismo denuncista da Veja, Folha de SP Estadão e Globo
Manoel F V Motta - Professor da UFMT

sexta-feira, 8 de julho de 2011

OS TRABALHADORES E A FÓRMULA GLOBAL DE CONQUISTAR UM REAJUSTE SALARIAL


Depois de anos de experiências diversas nas lutas e movimentos dos trabalhadores por melhores condições de vida e trabalho, chego hoje a conclusão de que estava totalmente equivocado. Que não havia necessidade de tantos enfrentamentos, greves, embate com as forças de segurança, sindicato, etc., pois, tudo poderia ter-se resolvido com uma simples conversa amistosa, mansa e delicada entre patrão e empregado. Sim, é isso que uma dupla de apresentadores de um telejornal da Globo, nesta manhã de inverno mato-grossense, me jogou impunemente na cara como ensinamento.
A reportagem foi bem urdida, inclusive plasticamente. Uma moça esguia, bonita, de fala fluente e bem articulada é apresentada em um escritório como funcionária deste, insatisfeita com os seus vencimentos e disposta a reclamar ao seu chefe aumento salarial. A repórter recorre a um “especialista” (que Gramsci identificaria como intelectual orgânico do Capitalismo) em recursos humanos para recolher deste, orientações sobre como deveria proceder um trabalhador para pedir e receber aumento salarial. O “especialista” dá diversos conselhos: não se emocionar, não falar dos seus problemas, falar da sua contribuição para o crescimento e sucesso da empresa, etc.; e, caso o patrão lhe respondesse com um sonoro não, alegando falta de condições financeiras para conceder o reajuste, o trabalhador não deveria se revoltar, mas perguntar ao patrão o que ele (empregado) deveria fazer para que a empresa crescesse, melhorasse o seu faturamento (lucro) e, assim, tivesse as condições para lhe atender ao pedido.
Os professores das redes municipais de ensino de alguns municípios mato-grossense fizeram greve este ano por reajustes salariais, os da rede estadual estão em greve, os bombeiros de diversos estados da Federação fizeram greves com graves enfrentamentos, os funcionários da SEMA-MT fizeram greve, os da Saúde Pública, também; diversas outras categorias ameaçam paralisar suas atividades por melhores salários e outras reivindicações. Segundo a reportagem todos esses estão equivocados, não é assim que se consegue ter as reivindicações atendidas; bastaria um diálogo manso, delicado, individual, sem tumulto, sem assembléias barulhentas, sem passeatas, etc., para que seus respectivos patrões, públicos ou privados, atendessem as suas reivindicações. Entretanto, caso os patrões não pudessem atender, os trabalhadores deveriam indagar candidamente sobre o que eles deveriam fazer para melhorar as condições econômicas da empresa e, assim, terem suas reivindicações atendidas mais tarde.
A reportagem é um deboche com a história e com a inteligência dos trabalhadores, tal como fazia Delfim Neto quando ministro da Fazenda no governo dos militares: o ilustre intelectual do Capital dizia que era necessário fazer o “bolo” (a economia) crescer para depois reparti-lo com todos. De fato, o bolo cresceu, por obra e sacrifício dos trabalhadores brasileiros, mas quem o comeu não foram os trabalhadores e sim os grandes empresários, os grandes proprietários rurais e donos de bancos, dos quais Delfim era preposto. Agora, de forma melodramática tentam nos convencer de que a sociedade não está dividida entre os que tem e os que não tem a propriedade dos meios de produção, de que os interesses dos empresários são os mesmos interesses dos trabalhadores, aliás, que não existe trabalhadores, mas “colaboradores” e que, portanto, não há a necessidade destes se organizarem em sindicatos, associações, etc., para reivindicar melhores condições de vida e trabalho. A reportagem extingue, com meia dúzia de palavras ensaiadas pela jornalista-atriz e com cenas comoventes como se de um filme de Akira Kurosawa, a luta de classes, a mais valia e a natureza, enfim, do Capitalismo. Quê fazer?
Lembrei-me de uma entrevista dada por Professor Paulo Freire a uma revista de circulação nacional, quando questionado sobre o poder que a fala, o discurso, de um professor-educador teria diante da força de um meio de comunicação de massa, capaz de “fazer a cabeça” de milhões de pessoas ao mesmo tempo no Brasil inteiro. Com a sua serenidade característica Paulo Freire respondeu (palavras minhas) que aquele meio de comunicação, por mais abrangente e poderoso que fosse não poderia seqüestrar a realidade em sua totalidade, de modo que, apenas como parte da realidade ele era cognoscível e, assim, podia ser re-conhecido, interpretado e reduzido à sua condição de instrumento da dominação. A fala do saudoso professor faz aflorar mais a necessidade que a maioria da sociedade brasileira tem de uma escola vinculada aos seus interesses, às suas necessidades e, portanto, de professores-educadores capazes e comprometidos com suas funções de intelectuais orgânicos dessa maioria. Essa perspectiva exige professores-educadores com uma determinada competência, competência que, para além de formar gente para o “mercado”, seja capaz de elevar intelectualmente essa gente para uma compreensão superior da realidade e, desse modo, inserirem-se conscientemente no processo de recriação material e espiritual da sociedade em que vivemos.

Elismar Bezerra - Ex Secretario de Cultura de Mato Grosso e mestrando em educação na UFMT