quarta-feira, 28 de novembro de 2012

EU TE AMO, PORRA!

Eu, retardado como de costume, esqueci minha motoca ligada ontem de noite por algumas horas e resultado, a bateria bugou e foi pro beleléu. Resolvi então hoje pela manhã ir trabalhar de ônibus. Chego no ponto ali da Prainha, e vejo um casalzinho de adolescentes sentados boniiiiiiiiiitinhos abraçados e ouvindo música usando o mesmo fone. Eles tinham um estilo, sei lá, qualquer coisa roqueiro. A mina, cabelo ruivíssimo, piercings nos olhos e no nariz e ele idem. A diferença é que o cabelo do carinha um black power de causar inveja ao Seu Jorge. E lá estavam os dois namorando com tanto carinho e tão juntos que quem olhasse rapidamente, acharia que eles eram só um. Eu não sabia, mas o moço esperava o mesmo busão que eu. Quando o ônibus chegou a inércia do afeto dos dois ainda demorou alguns instantes até ser rompida e numa cena digna de Hollywood, daquelas em que o herói se despede de sua musa antes de ir à guerra, eles se abraçaram e mergulharam num beijo apaixonado. O rapaz entrou no ônibus e a mocinha ficou lá do lado de fora com um olhar que misturava paixão e dor e apenas movendo os lábios num sussurro que só ele podia ouvir, disse: "Eu te amo". A cara dele foi de quem não entendeu, ela repetiu o gesto e ele ainda voando. Foi quando ela encheu o pulmões e gritou pra todo mundo ouvir: "EU TE AMO, PORRA!" O jovem também disse que a amava e o motorista, já impaciente, colocou o veículo em movimento. O ônibus nem bem andou cem metros e o carinha do black power pegou o celular, provavelmente recebendo uma mensagem. Ele leu o torpedo e deixou escapar um sorriso como se dissesse "eu também". Por Johnny Marcus

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Mensalão: o fato e as versões

Costuma-se afirmar que em politica não importa o fato e sim a versão. Tudo bem que os ministros do STF podem ter exagerado, podem ter feito um julgamento essencialmente politico, vá lá, mas vamos e venhamos esses dirigentes do PT cometeram o erro politico de armarem esse imbróglio todo e pagam o preço de reproduzirem praticas - concedo à restritiva - ainda que parcialmente que condenavam em seus adversários políticos. O “mensalão” foi um erro politico do PT? Longe de mim afirmar isso, repito o erro politico foi dos dirigentes que se meteram nesse imbróglio que foi parar no STF. A não ser que não seja um erro politico criticar praticas dos adversários e reproduzir essas praticas. O fato de um dirigente errar necessariamente não contamina todo um partido. Isso no meu entendimento deveria ser quase uma obviedade em politica, mas não é. Não sou e nunca fui do PT. Sou e continuo sendo critico do PT, mas não por razões morais e sim por razões politicas. Razões politicas que cito duas para não me alongar no que considero tenham sido erros, equívocos políticos desse partido. O primeiro foi ter se recusado a participar do colégio eleitoral em 1985 que elegeu Tancredo Neves e que pôs fim à ditadura. O segundo, esse em minha opinião o mais grave, foi não ter assinado a Constituição de 1988 que garantia ao país o retorno ao estado de direito. Por isso vejo com reservas, reservas fundamentadas em razões de natureza politica, tratar com complacência os dois principais dirigentes do partido que se meteram nessa trama envolvendo milhões de reais. Não da para negar que foi tecida uma grande teia para arrecadar fundos para financiamento das atividades politicas do partido e seus aliados e que esses dois dirigentes foram os seus principais protagonistas. Isso foi grave não da para esconder. Justificar politicamente essa atividade de arrecadação de fundos utilizando o argumento de que essa foi uma pratica de que também se valia os seus adversários no passado é sem duvida um grave equivoco politico. Se esse crime politico já vinha sendo cometido pelos seus adversários não é uma justificativa para cometê-lo muito pelo contrario. Armadilhas foram sendo colocadas ao longo dos recentes processos eleitorais pós-constituição de 1988 no que diz respeito ao financiamento de campanhas. Todas na direção de tutelar o voto popular, impedindo que uma massa de eleitores e eleitoras consideradas sem consciência politica vendesse o voto. Ao mesmo tempo em que foram sendo criminalizadas algumas praticas de arrecadação de fundos o custo financeiro das disputas eleitorais foram ficando mais caras e mais sofisticadas. O que tem implicado em remeter para clandestinidade pratica usual de apoios financeiros aos partidos e suas candidaturas. A consequência dessa criminalização se expressando nas inúmeras denuncia de compra de votos que tem permeado os últimos processos eleitorais. Não da ainda para avaliar as consequências politicas de médio e longo do prazo deste polemico julgamento. Não consigo enxergar porem a positividade desse movimento em que tem se empenhado segmentos importantes do PT em considerar que o resultado do julgamento STF não tem legitimidade. Essa é uma aposta arriscada. O resultado é legitimo e tem que ser acatado. Ainda que possamos problematizar em torno de duvidas, especular sobre possíveis lacunas que um olhar crítico pode perceber. E realizar as possíveis contestações sempre nos marcos da legalidade. Fica assim a sensação de que tem lacunas nessa história. Não da para entender porque elas não precisam ser esclarecidas para que se condenem réus que um dia foi indivíduos "notáveis" nas estruturas de poder desse país. É o uso a tal da “teoria do domínio dos fatos”, que na verdade acaba sendo uma espécie de teoria legitimadora para a fundamentação jurídica de uma versão. Até hoje não foi divulgado um nome da chamada "base aliada" que recebeu para votar em projetos do governo. É tudo muito genérico, receberam, votaram... Até agora só temos os nomes dos "lideres" que receberam e distribuíram o tal do "dinheiro publico" que não fica claro exatamente de onde veio, pois não é dito de que rubrica do "orçamento do Estado" ele foi retirado. De qual ministério, de qual secretaria. Quem foram os deputados federais corrompidos no mensalão? Até hoje não li sequer um nome, de um só pelo menos, dos que receberam para votar segundo os interesses do governo. Na época em que o PSDB propos o projeto de reeleição para os cargos do executivo federal, estadual e municipal o deputado federal Ronivon Santiago foi manchete do jornal Folha de Sao Paulo quando afirmou publicamente que recebeu dinheiro para votar nesse projeto. O que quero saber é quem recebeu a dinheirama para votar. Os nomes. Do jeito que esta sendo mostrado ate´agora parece que foi cometido um crime pela metade. Sabe-se que circulou muito dinheiro, com provas materiais de sua existencia, mas não se sabe com clareza de onde veio nem pra quem foi. Não dá para negar que existiram muitos dos fatos que compõe esse processo do dito “mensalão”. Vai ficando evidente, entretanto, que esses acontecimentos não tiveram implicações negativas nesse ultimo processo eleitoral. E parece ao que tudo indica do apoio popular à gestão dos governos do partido. Isso para desgosto das oposições, que talvez esperassem uma severa condenação moral que se expressasse nas urnas. Não aconteceu. O que não dá para ocultar, usando a expressão da presidente Dilma é que muitos “malfeitos” foram cometidos. É bom relembrar que são as versões que passam para a posteridade e não os fatos. Não tem anjos nem vestais nessa historia. O que vale é a versão não o fato. Manoel F V Motta - Novembro de 2012