domingo, 1 de agosto de 2010

Ocupação da Hidreletica de Dardanelos em Aripuanã em Mato Grosso


Severino Motta unico reporter da midia nacional a cobrir o que aconteceu na hidreletica de "Dardanelos" em Aripuanã no MT esta semana realizou reportagem sobre a ocupação feita pelos povos indigenas da região no portal ig.com.br e que reproduzimos a seguir:


Iphan deve criar museu indígena em Aripuanã


No local serão exibidas cerâmicas e urnas mortuárias encontradas na propriedade da usina de Dardanelos

Severino Motta, enviado a Uripuanã | 28/07/2010 05:03


O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) deve criar um museu para abrigar peças indígenas encontradas no terreno da usina hidrelétrica de Dardanelos. O material, que está atualmente na capital de Mato Grosso - Cuiabá - deve ser transferido para o noroeste do Estado e ficar em exposição permanente.

O museu será o resultado de um estudo étnico-arqueológico a ser realizado numa parceria do Iphan com o Consórcio Águas da Pedra, responsável pela construção da usina de Dardanelos no município de Aripuanã (1000 km a noroeste de Cuiabá).
De acordo com o Coordenador de Pesquisa e Licenciamento do Iphan, Rogério José Dias, o material possibilitará uma maior compreensão dos povos que habitaram o noroeste de Mato Grosso há "tempos imemoriais".
O estudo e o museu foram parte do acordo feito pelos índios que ocupavam o canteiro de obras de Dardanelos para a desocupação do local. Devido às urnas mortuárias encontradas, os indígenas passaram a considerar a região como área sagrada.
Por isso, o espaço onde as peças foram encontradas deve ser isolado e nenhum tipo de construção poderá ser feito. "As peças que já foram retiradas vão para esse museu. O local será mantido intocável para preservarmos a história dos índios, afinal, ninguém quer que o cemitério onde estão seus familiares seja destruído com obras", disse Rogério.


Líder indígena defende invasão


Presidente da Organização indígena do noroeste de Mato Grosso disse que invasão foi única forma de obter acordo com governo e empresa

Severino Motta, enviado a Uripuanã | 28/07/2010 05:02


O presidente da organização indígena do noroeste de Mato Grosso, Jair Tsaibatatse, disse ao iG que a invasão do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Dardanelos, no município de Aripuanã (1000 km a noroeste de Cuiabá-MT), foi a única saída encontrada para que os índios obtivessem compensações pelo impacto ambiental gerado pela obra. Apesar de considerar a invasão um sucesso, ele disse esperar que algo semelhante não volte a acontecer.
"Está tudo resolvido, está feito o acordo. Fizeram o compromisso e vamos esperar cumprir. Espero que nunca mais aconteça isso", disse.
Jair ainda disse que há mais de um ano os indígenas lutavam por uma compensação devido à usina ter sido construída num terreno que abriga um cemitério indígena. "Tivemos que invadir devido ao fato de que desde a época... a comunidade, a etnia Arara e Cinta-Larga, eles queriam que pagasse a compensação do impacto que estava dando".


Índios desocupam usina de Dardanelos, no Mato Grosso

Índios chegam a acordo com o governo e com empresa responsável pela usina de Dardanelos e deixam o local

Severino Motta, enviado a Uripuanã | 27/07/2010 17:19 - Atualizada às 20:50

O grupo de cerca de 200 índios que invadiu a Usina Hidrelétrica de Dardanelos, em Aripuanã – a cerca de 1.000 km a noreoeste de Cuiabá (MT) – começou a desocupar o local nesta terça-feira.
Após uma reunião que durou o dia todo, um acordo entre o governo do Estado, prefeitura, Funai e a companhia responsável pelo empreendimento agradou a comunidade indígena e garantiu benefícios para as tribos Cinta-Larga e Araras, que vivem próximas a usina. Cerca de 50 índios saíram durante o dia e os outros 150 restantes começaram a deixar o local por volta das 20h.
Pelo acordo, o governo do Estado aplicará recursos em um programa para a saúde indígena e também investirá na formação de professores para as aldeias (que ministrarão aulas baseadas na cultura de cada etnia).
A prefeitura de Aripuanã em parceria com o governo fará a manutenção constante das vias de acesso às tribos. Os índios reclamavam que, durante o período das chuvas, ficavam ilhados em suas comunidades.
O consórcio Águas da Pedra, responsável pela construção da Usina de Dardanelos, ficará responsável pela elaboração de um plano que mitigue os efeitos do empreendimento ao meio ambiente e também terá de tocar um plano de apoio social, com estímulo à produtividade das terras indígenas e auxílio na comercialização de excedentes.
Além disso também ficou acertado que o Iphan fará uma pesquisa no patrimônio ambiental e, caso necessário, irá retirar objetos arqueológicos para a construção de um museu que ficará em posse dos índios.
Ao iG, a assessora técnica de gestão ambiental da Funai, Vivian de Oliveira, disse que nenhum tipo de recurso será repassado diretamente aos índios. “Essa história de dar R$ 10 milhões nunca existiu. Nós não apoiamos esse tipo de coisa”, disse.


"Fomos roubados pelos índios", dizem funcionários


Trabalhadores da usina de Dardanelos afirmam que índios roubaram de peças de roupas a celulares e notebooks

Severino Motta, enviado a Aripuanã | 28/07/2010 05:00 - Atualizada às 14:19


Funcionário de usina fala sobre invasão


Alguns dos funcionários que foram feitos reféns no domingo após a invasão à usina hidrelétrica de Dardanelos, em Aripuanã, alegam que foram roubados pelos índios. De acordo com eles, roupas, sapatos, celulares, rádios e notebooks foram levados pelos indígenas. Com o episódio, muitos temem voltar à rotina de trabalho.
"Os índios chegaram de manhã, gritando, arrombando porta e mandando a agente sair dos alojamentos que iam tacar fogo. Depois quem falava no celular eles pegavam. Se gostavam de um tênis pegavam. E nos alojamentos não sobrou nada de ninguém, fomos roubados pelos índios", disse Luis Carlos Anunciação, encanador industrial da usina.
Segundo o relato de outros trabalhadores, que estão alojados em pousadas no município de Aripuaná (1000 km a noroeste de Cuiabá-MT), há receio de voltar a morar no alojamento da companhia.
"Não só eu [tenho medo de voltar], todo mundo, a maioria não quer voltar, para trabalhar é uma coisa, para morar não. Quebraram tudo, colocaram papel dentro do banheiro, em vez de fazer dentro do banheiro fizeram dentro do quarto e nós ficamos no sal, como vai dormir num local daquele com tudo quebrado", disse Marcelino Rosa do Nascimento, encanador industrial.
O capitão Taques, da Polícia Militar, responsável pela primeira vistoria nas dependências da usina, revelou ao iG que encontrou o local "todo bagunçado, com algumas portas arrebentadas e diversos objetos faltando". Mas segundo o capitão, pelo número de índios que estavam no local esperava-se que a situação fosse pior. "O refeitório, uma área de rancho e o painel de força estão preservados. Mas o alojamento, a farmácia e uma parte administrativa da empresa tiveram danos", afirmou.
Na tarde desta quarta-feira, a companhia deve fazer uma relação de objetos que estão faltando para apresentar junto ao boletim de ocorrência que será produzido. Nesta quinta-feira deve ser a vez dos trabalhadores da empresa registrarem os boletins de ocorrência pelos objetos danificados ou que desapareceram dos alojamentos.
Recuperação
Com o fim da invasão, o presidente da Companhia Águas de Pedra, José Piccolli, disse que objetos foram devolvidos pelos índios e que serão encaminhados a seus respectivos donos. Ainda não é possível saber se todo o material foi recuperado.


Índios fazem 100 reféns e pedem R$ 10 mi por construção de usina


Em Mato Grosso, índios equipados com facas e arcos retêm os funcionários que trabalham na construção da usina

Um grupo de cerca de 300 índios de 11 etnias diferentes ocuparam hoje a usina hidrelétrica de Dardanelos, em Aripuanã, no Mato Grosso, e impedem a saída de 100 operários. Equipados com facas e arcos, os indígenas retiveram os funcionário que trabalham na construção da usina e os prenderam em um alojamento. "Os índios em nenhum momento ameaçaram suas vidas. Pediram tranquilamente que fossem para seus alojamentos", disse Antonio Carlos Ferreira de Aquino, o coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Eles querem receber uma compensação financeira de R$ 10 milhões pela inundação de áreas indígenas e a interrupção dos projetos de expansão da produção energética por meio de pequenas centrais (PCHs) previstas ao longo do rio Juruena, que corta as reservas. Os índios reivindicam as compensações por parte das autoridades pelo impacto social, cultural e ambiental da obra, localizada a 30 quilômetros de sua reserva.
Aquino explicou que a empresa construtora "dinamitou" parte de um sítio arqueológico considerado sagrado pelos povos da região. "Ao longo do tempo, os índios reivindicaram uma compensação, como prevê a lei de desmobilizações (de obras públicas). Como a hidroelétrica vai começar a operar no final deste ano, perderam a paciência", disse o representante da Funai.
O gerente de Meio Ambiente da Companhia Águas da Pedra, responsável pela usina, Paulo Rogério Novaes, diz que tem receio pelos trabalhadores que estão presos dentro da área. “Eles disseram que, se em dois dias não aparecerem autoridades para resolver o problema, vão colocar fogo em todo o canteiro de obras”, alega Novaes. Na versão dele, o que os índios reivindicam são condições sociais melhores, como acesso à educação r à saúde, melhoria das estradas de acesso às aldeias e inclusão no programa Luz para Todos. “São problemas que o Estado tem que resolver, mas eles acham que são responsabilidades da usina”, afirma o gerente da Águas da Pedra.
Segundo o gerente da usina, a hidrelétrica não funcionará com represas e seu impacto ambiental é baixo. Com isso, os índios não seriam atingidos diretamente pela obra, uma vez que a aldeia mais próxima fica a 42 quilômetros de distância. “Mas nós temos um programa de ações mitigadoras que trata de medidas de apoio social. Só que esse programa foi entregue à Funai em 2005 e até hoje não obtivemos resposta. Queremos fazer alguma coisa, mas estamos esperando para saber o que e como”, alega Novaes.
Reintegração de posse
Por determinação do Ministério da Justiça, uma comissão, integrada por representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Polícia Federal se deslocará amanhã para Aripuanã, norte do Mato Grosso, a cerca de mil quilômetros de Cuiabá, onde fica a sede da hidrelétrica invadida, para negociar a libertação dos reféns e a solução do impasse. Os controladores do empreendimento também entram hoje com pedido de reintegração de posse.
A tomada da hidrelétrica foi feita pela manhã por cerca de 300 índios, liderados por caciques das etnias Arara e Cinta Larga, conhecidas pela valentia. Os cintas largas procedem da mesma região de Rondônia, a Reserva Roosevelt onde, em 2004, foram massacrados 29 garimpeiros num garimpo de diamantes. Os primeiros relatos da invasão são imprecisos, mas não há registro de mortos ou de confronto entre índios e operários, que receberam os invasores sem resistência. Eles foram levados para um barracão na construção.
Maior hidrelétrica de Mato Grosso, Dardanelos vai integrar ao Sistema Nacional de 36 cidades atendidas por termelétricas na região. A usina é uma das duas que tiveram construção autorizadas último no leilão de energia nova promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A conclusão das obras da Usina de Dardanelos está prevista para até o fim deste ano.