sexta-feira, 3 de junho de 2011

MULHER E PODER


Convidada para contribuir com o II Congresso Estadual da União Brasileira de Mulheres – UBM/MT –, “Mulher, Poder e Trabalho”, ocorrido no dia 21 de maio, numa mesa nominada “Mulheres e Poder Político – Panorama Nacional e Estadual” refleti que, no campo filosófico pondera-se como estabelecemos a relação entre política e poder; poder, força e violência; autoridade, coerção e persuasão; origem, natureza e significação do poder. E mais, se política, de forma simplificada, pode ser entendida como “luta pelo poder”, então estamos falando de “conquista, manutenção e expansão do poder”. Para que se exerça o poder, é preciso “força”.

Partindo desse pressuposto, poderia fazer uma abordagem teórica acerca das diferentes correntes de pensamento sobre a temática, uma vez que, ao responder essas questões, cada corrente o fará expressando suas concepções. Essa abordagem é importante, mas julguei-a desnecessária para o momento proposto.

Mais importante, pra mim, naquele momento, era discutir com as mulheres que todos nós, em cada espaçozinho que vivemos disputamos o poder. O poder de... A tendência é que as pessoas rejeitem e neguem que o poder, mesmo nas suas relações cotidianas: pais e filhos, companheiro e companheira, professor e aluno, empregador e trabalhador.

Também julguei importante destacar o artigo A Crise do Homem, do jornalista José Carlos Ruy, na revista Presença da Mulher de 1993. Nele, Ruy reconhece que as mulheres são pioneiras e donas da iniciativa de redefinir papéis, de superar “o script tradicionalmente reservado à mulher”. Essa mudança nos scripts a que ele se refere, vem acontecendo em larga escala. Em se tratando Em se tratando de poder, estamos na fase da manutenção e expansão, dialeticamente falando, na fase da conquista. Como diz Elza Campos, Coordenadora Nacional da UBM: “É um marco na efetiva busca pela ampliação dos espaços de poder em todas as organizações da sociedade”.

O Congresso da UBM ocorre num momento impar, o primeiro após a eleição e posse da primeira mulher presidente do Brasil, A eleição de Dilma é resultado de uma série de fatores, mas também de uma vitória do movimento feminista e, mais especificamente emancipacionista, que formou novas mentalidades. Mais significativo ainda, é perceber que a UBM dá centralidade, em seu congresso nacional, as discussões sobre a participação da mulher e o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. E essa foi a minha linha de abordagem: discutir a questão da mulher no Estado de Mato Grosso e a sua participação política passa,
obrigatoriamente, por discutir o desenvolvimento.

Abri mão da exposição do panorama nacional quantificando a participação da mulher por verificar que o mesmo já é de conhecimento amplo e que a participação política das mulheres é imensa, propositiva e em todas as esferas. Comungo, porém, com a Resolução do Seminário As Mulheres e a Reforma Política ao observar que apesar de todos os saltos qualitativos, as mulheres continuam “sub-representadas em relação ao potencial de nossa atuação política”. A Resolução questiona: Até quando o Brasil (acrescento, Mato Grosso) vai conviver com alta participação das mulheres no eleitorado e nas lutas sociais e baixa inserção das mulheres nos espaços de poder?

Em 2008, a pesquisa de Michelli Burginsk (atualmente professora da UFT) constatou que a cultura política em Mato Grsso ainda é a de submissão, ancorada na divisão sexual do trabalho na sociedade; e em fatores familiares e domésticos. Ou seja, mulheres que “ascenderam pela via familiar, particularmente a marital” elegeram-se diretamente ao parlamento federal, as que tiveram suas trajetórias forjadas a partir dos movimentos sociais, o fizeram gradativamente: vereadora, deputada estadual, deputada estadual ou senadora. Já naquele momento, identificava-se uma queda na participação e representação feminina em cargos eletivos. De lá pra cá, esses números diminuíram mais. O cenário no Estado nos remete a considerações desfavoráveis quanto à representação nos espaços de decisões políticas e nos partidos políticos.

Contudo, na tentativa de preenchimento de vagas, muitos partidos têm driblado a legislação. Segundo Michelli, legendas têm utilizado a figura das “mulheres- laranjas”, que não possuem vida orgânico-partidária para compor a cota exigida pela lei. “O interessante é que muitas nessa situação acabam se elegendo”. Isso se aplica, principalmente, nas disputas das câmaras municipais, uma vez que os avanços da mulher na política são mais visíveis nas eleições municipais.

Sem entrar na discussão de classe, da representação e compromissos de classe, destaco que Bia Spineli, Lueci Ramos, Vera Araújo, Chica Nunes, Celcita Pinheiro, Teté Bezerra, Thelma de Oliveira, Serys, Iraci França e Teresinha Maggi são nomes do legislativo e executivo que estiveram em foco, mas por diversas razões vão sendo, gradativamente, “apagadas” desse cenário. Ousaria dizer que – sem entrar em questões internas de partido –, Serys é um exemplo claro de mulher que disputa, violentamente, o poder de dirigir um partido no estado. “O campo político não é somente masculino devido à majoritária presença dos homens, mas porque antes de tudo, traz uma simbologia identificada com os valores masculinos. Além do mais, o ato de comandar e de tomar decisões tem sido historicamente atributos imputados aos homens”.

Algumas atuações e representações nesses espaços, em nosso Estado, foram subsumidas por orientações masculinas, as mulheres se tornaram meros instrumentos. As desigualdades de gênero se refletem nas práticas políticas internas dos partidos. “Historicamente os partidos políticos permaneceram fechados à representação das mulheres”.

Considerando como espaços de poder mais que o parlamento, executivo, judiciário, mas todas as instâncias e instituições sociais, com condições de intervir na transformação da sociedade defendo que as mulheres no Mato Grosso tomem como tarefa um amplo debate sobre o Modelo de Desenvolvimento. Debatê-lo permitirá que conheçam melhor o processo histórico em que se formou o Estado; os modelos de produção que se conflitam: agronegócio e agricultura familiar; questões de trabalho, renda, emprego e economia solidária; a economia do Estado; saúde, educação: inclusiva, não sexista, não homofóbica; a cultura e a mídia; reforma urbana e meio ambiente; a luta contra a violência doméstica e familiar. Isso é a grande política! Articulada de forma tal que, permitirá às mulheres se recolocarem no centro do debate, ocupando espaços sociais e de representação política, indubitavelmente

MarilaneCosta - Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisa As vicissitudes da Sociedade Brasileira (IFMT/UFMT/UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB. laneacosta@gmail.com