segunda-feira, 14 de abril de 2014

Relatos da Missão à Palestina

Lejeune Mirhan * Semana passada, por estar na Palestina, não escrevi a coluna semanal. Volto agora à mesma e trato de apresentar um relatório resumido do que lá fizemos, os aspectos positivos e debilidades que encontramos e as perspectivas de mais missões solidárias à Palestina. Ir à Palestina hoje talvez seja das tarefas da solidariedade mais importantes da atualidade. Sabemos que muitos povos e países precisam da solidariedade internacionalista, mas tenho convicção de que o povo que mais precisa é o palestino. Eles vivem a mais antiga ocupação militar que a humanidade conheceu nos tempos modernos. São 66 anos que serão completados mês que vem. Nosso atual Comitê Palestino é herdeiro do Comitê que fundamos em 1982 em SP quando ocorreu, sem setembro desse ano, o famigerado massacre de Sabra e Shatila. De lá para cá, ele sempre viveu altos e baixos. Quando ocorrem massacres de palestinos, ele retoma, quando votam à “rotina” com a ocupação israelense, ele praticamente desaparece. Esta experiência que vivemos é a mais longa e estável dos últimos 32 anos. E esperamos que siga dessa forma. Não só pelas quase 80 entidades aderentes – entre elas as trinta maiores do país de todos os segmentos sociais –, mas pelo fato de que nunca em menos de três anos realizamos tantos eventos. E, entre esses eventos, destacam-se três missões de solidariedade, que levaram à Palestina em torno de 40 pessoas. Faço aqui, um breve relato desta nossa 3ª Missão de Solidariedade. Integrantes da 3ª Missão: Ângela Maria de Souza Vitor – Servidora da Universidade de São Paulo (aposentada) e da Força Sindical; Antônio Marsicano de Miranda – Diretor do Sindicato dos Comerciários do ABC e da Federação dos Comerciários do Estado de São Paulo. Representa a Força Sindical; Antônio Victor – Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Sertãozinho; Diretor da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação do Estado de São Paulo e Secretário Adjunto de Relações Internacionais da Nacional da Força Sindical; Beatriz Bissio – Socióloga, Escritora, Jornalista, Doutora em História, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Chefe do Departamento de Ciência Política e ex-editora da revista Cadernos do Terceiro Mundo e escritora; Manoel Francisco de Vasconcelos Motta – Professor de Filosofia da Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT, Doutor em Filosofia da Educação, nesta Missão representante da Federação Nacional dos Professores das Universidades Federais do Brasil – Pró-IFES; Marcelo Melo de Lima – Engenheiro Eletrônico da empresa Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRAS; Nair de Faria Miranda – Comerciária da Força Sindical; Thea Rodrigues – Jornalista do Portal Vermelho e Mestre em Conflitos Internacionais; Thomas Henrique de Toledo Stella – Historiador pela USP, Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, professor de Relações Internacionais da UNIP e Secretário Geral do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – Cebrapaz. Quero destacar aqui a presença de quatro professores, dos quais dois doutores de universidades federais. Uma delas, em particular, quero mencionar. Trata-se da Drª Beatriz Bissio, da UFRJ, que foi fundadora e editora por 35 anos do histórico Cadernos do Terceiro Mundo. Fui colecionador e tenho encadernado todas as edições brasileiras (ele surgiu em 1974 no exterior) desde 1979. Tive orgulho de viajar com Beatriz, que já a conhecia de outras época, companheira de décadas do saudoso Neiva Moreira. Beatriz não só qualificou a Missão, mas demonstrou amplo conhecimento da causa palestina, além de dominar vários idiomas com fluência. Partidos Políticos da OLP com quem mantivemos reuniões: Fatah (organização do presidente Abbas e de Yasser Arafat); Frente Popular de Libertação da palestina – FPLP; Frente Democrática de Libertação da Palestina – FDLP; Frente de Luta Popular; Partido do Povo Palestino (Comunista); Frente Árabe-Palestina, e Iniciativa Nacional palestina, totalizando sete partidos da Organização; Órgãos de Governo da Autoridade Palestina: estivemos com os ministros da Saúde, dos Esportes, da Defesa (equivalente); Organizações da Sociedade Civil; Agricultura (vice); Educação (vice). Estivemos com o comando da Guarda Nacional, que organizou demonstração específica para a delegação brasileira com esportes militares; Organizações populares e de massa: fizemos reuniões com a juventude palestina, com a maior organização de mulheres palestina, a União Geral das Mulheres Palestinas; com a União Geral dos Trabalhadores Palestinos (GUPW na sigla em inglês, a maior central sindical do país e filiada à FSM) e mais 10 sindicatos, envolvendo advogados, professores, escritores, economistas e diversos outros setores; Reunião com o prefeito de Betúnia: fizemos reunião com o prefeito Ribhi Dola e seu vice, Saed Nassar. Nessa localidade residem muitos brasileiros, onde almoçamos com cerca de cem pessoas, na maioria brasileiros. Mais de 10 vereadores fizeram-se presentes ao almoço. Na parte da tarde, presenciamos um desfile de banda escolar e de escoteiros e posteriormente a delegação brasileira plantou uma oliveira no Dia da Terra (30/3). Fomos homenageados em festa popular com mais de 200 pessoas, com muita música, poesia, dança. A delegação brasileira presenteou o Clube Betúnia com um jogo completo de camisa de futebol, conseguido por Antônio Marsicano de Miranda, da Força Sindical. O prefeito pediu-nos que fizéssemos projetos em cidades brasileiras para que tornassem cidades-irmãs de Betúnia, cidade bíblica; Reuniões com Governadores: reunimo-nos com os governadores palestinos de Jericó e de Jerusalém (Oriental e árabe, onde ficam os pontos sagrados para os cristãos); Cidades Visitadas: conhecemos ao todo cinco cidades, a saber: Ramallah (considerada hoje a capital administrativa da Palestina), Jericó, Belém, Jerusalém e Betúnia; Aldeia visitada: fomos à aldeia milenar (mais de cinco mil anos) de Nabih Saléh onde conhecemos a experiência da resistência Não-Violenta da família Tamimi. Nessa localidade, a delegação brasileira, com os palestinos, foi agredida pelo exército de Israel com bombas de gás lacrimogênio e de pimenta. Assistimos, ao vivo, a tática da resistência juvenil, que enfrenta o que é considerado o quarto maior exército do mundo; Locais considerados sagrados que visitamos: Conhecemos as Mesquitas Al Aksa e de Omar, ambas situadas na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém. Visitamos a Igreja do Santo Sepulcro e o Gólgota em Jerusalém, bem como a Igreja da Natividade que fica em Belém. Em Jerusalém, visitamos ainda o seu bazar e mercado que são milenares. Registramos que em Jerusalém, nós visitamos o bairro de Sheik Jarash, onde judeus ortodoxos vêm tomando casas de palestinos pouco a pouco; Mausoléu e Fundação Arafat: visitamos e fizemos oferendas florais no túmulo-monumento de Yasser Arafat, fundador e presidente da OLP. Visitamos também a Fundação Yasser Arafat que preserva todo o seu legado pessoal; Muro da Vergonha: conhecemos e passamos em várias localidades onde existe o chamado Muro da Vergonha, construção de oito metros de altura e 800 quilômetros que divide a Palestina e protege colônias israelenses na Cisjordânia; Embaixada brasileira na Palestina: fomos recebidos e nos deu total apoio e suporte, o embaixador do Brasil na Palestina em Ramallah, Paulo Roberto França. Esteve com a delegação no primeiro dia de nossos trabalhos, na sexta-feira dia 27 de março e almoçou conosco no dia seguinte junto com as autoridades palestinas; Universidade de Birzeit – conseguimos agendar uma visita ao campus da mais antiga Universidade palestina (que é privada e pública ao mesmo tempo, fundada em 1924). Possui mais de 20 mil alunos matriculados. Estivemos com vários professores e o vice-reitor para assuntos acadêmicos; Visita ao Hospital Central de Ramallah e Plantio de Oliveiras – A delegação brasileira visitou o maior hospital da Palestina, onde foi recebido pelo seu diretor geral. Nessa mesma localidade, contribuiu simbolicamente no plantio de quatro oliveiras no dia da Terra, 30 de março. Na localidade onde isso foi feito é na verdade um túmulo coletivo de 15 homens e mulheres palestinas que morreram no hospital quando Israel cercou ao hospital de 2001. Como Israel não permitia que os corpos saíssem de lá para serem enterrados, eles foram enterrados ali mesmo, nos jardins do hospital; Entrega de Jogos de Camisas – Antônio Marsicano, em nome da Força Sindical e do CEP entregou ao Ministro dos Esportes da Palestina, dois jogos de camisas completos e duas bolas de futebol oficial; Jantar na cidade de Kobar – Fomos recebidos em uma das noites pela família brasileira Latif e Rabah. O evento reuniu muitos brasileiros que moram nessa cidade, administrada pelo PPP; Agradecimentos – Ao final de nossa matéria onde relatamos a viagem à Palestina, quero deixar registrado alguns agradecimentos especiais e suas justificativas: • Ao embaixador da Palestina no Brasil, Dr. Ibrahim Al Zeben, que, junto com o governo e a OLP, organizaram de forma tão detalhada nossa 3ª Missão; • Ao embaixador brasileiro na Palestina, Paulo Roberto França pelo empenho e apoio nas nossas atividades; • Ao companheiro Khaled Mahassen, membro do CEP, que, com sua agência de viagens, especializada em Oriente Médio, organizou o roteiro, traslados, emissão de bilhetes, seguros de vida, ônibus especial, bancando inclusive parte dos custos da viagem; • Aos tradutores Mustafa El Dahla, brasileiro do RS, residente na Palestina que nos fez tradução para o português e ao engenheiro Faisal Malak, pelas traduções para o espanhol e inglês e por ter-nos acompanhado durante todos os nossos sete dias na palestina; • À FEPAL – Federação de Entidades Árabe-Palestinas do Brasil. Lista geral de autoridades contatadas – Tomo a liberdade de listar em ordem alfabética os nomes de todas as 23 autoridades, lideranças, representantes dos partidos e seus respectivos cargos na estrutura da Autoridade Palestina ou na estrutura da OLP: Adnan Husseini – Governador de Jerusalém e Ministro para Assuntos de Jerusalém; Ahmed Sobeh, Dr. e Embaixador – Diretor Geral da Fundação Yasser Arafat; Akel Taqaz, Presidente do Comitê Palestino pela Paz e prefeito da cidade de Kobar, pelo Partido do Povo Palestino (ex-Partido Comunista Palestino); Haidar Ibrahim – Secretário-Geral da União Geral dos Trabalhadores Palestinos; Henry Jaqaman, Dr. – Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos da Universidade de Birzeit; Hussein Karabsa – Secretário-Assistente do Departamento de Juventude da GUPW e membro do PPP; Ibtisam Zeidan – Presidente da União de Luta das Mulheres Palestinas; Jawad Awwad, Dr. – Ministro da Saúde da Palestina; Jibril Rajoub – Major-General; Ministro dos Esportes e Presidente do Comitê Olímpico Palestino e da Federação Palestina de Futebol; Mahmoud El-Habil – Diretor Geral do Departamento de Organização Popular e do Trabalho da OLP; Majed Al-Fityani, Eng. – Governador de Jericó e Al-Aghwar; Maria Youssef Al Aqra – Diretora de Cooperação do Ministério da Saúde; Mohamed Odeh – Presidente do Comitê de América Latina da Comissão de Relações Exteriores do Fatah; Mohammed Saleh Aruri – Vice-Secretário-Geral e Diretor do Departamento de Relações Internacionais da União Geral dos Trabalhadores Palestinos (GUPW, na sigla em inglês); Mustafa Barghouthi, Dr. – Secretário-Geral da Iniciativa Nacional Palestina; Nabeel Shaat, Dr. – Membro do Comitê Central do Fateh, da Comissão de Relações Exteriores e Membro do Conselho Legislativo Palestino; Rada Awadallah – Membro do Bureau Político do Partido do Povo Palestino e Secretária-Geral da União Geral das mulheres Palestinas; Ramez Fawadleh – Escritório de Relações Públicas da Universidade de Birzeit e Coordenador de Atividades das Delegações; Ribbi W. Dola – Prefeito Municipal de Betúnia; Saed Nassar – Vice-prefeito de Betúnia; Salwa Hdaib Qannam – Vice-Ministra para Assuntos de Jerusalém; Sultan Abu Al Einein – Major-General, membro do Comitê Central do Fatah e Ministro das Organizações da Sociedade Civil; Susan Shalabi-Molano – Membro do Comitê Executivo da Conferência Asiática de Futebol; Youssef Ali Al-Helo – General, Comandante da Comissão de Treinamento Militar da Autoridade Palestina. Desafios das próximas Missões à Palestina Realizamos dia 9 de abril, a nossa 46ª Reunião do Comitê Palestinos. Diversas entidades e 15 pessoas, entre representantes das organizações e ativistas da causa palestina. Todos foram unânimes em avaliar com extremamente positiva mais essa Missão. Críticas foram feitas, construtivas, no sentido do aprimoramento das mesmas e são sempre bem vindas. Mas, foi um sucesso. No entanto, a unanimidade é que precisamos baratear os custos para que mais pessoas e entidades possam mandar dirigentes, estudiosos, pesquisadores para a Palestina. Conversamos com altos dirigentes da OLP no sentido de criarmos alternativas que possam fazer cair pela metade os custos (hoje na faixa de três mil dólares). Houve uma grande simpatia para a proposta que está em construção. Foi sugerido ainda que fizéssemos missões temáticas, ou seja, por segmentos, como juventude e estudantes, professores, médicos, sindicalistas e cuja programação pudesse ser específica dos interesses desses mesmos segmentos. A possível 4ª Missão poderá até ser da Juventude. É que na Palestina ocorrerá entre os dias 6 e 11 de novembro deste ano, a Jornada Internacional da Juventude de Solidariedade ao Povo Palestinos. Esse evento costuma reunir milhares de pessoas de todo o mundo. O representante da UNE/Oclae presente à reunião ficou entusiasmado com a proposta e irá encaminha a ideia tanto para as suas entidades que é diretor, quanto para a maior organização de jovens do Brasil, que é a UJS, que inclusive realiza Congresso no mês de maio. O nosso Comitê (www.palestinaja.net) sente-se orgulhoso de participar de mais uma Missão de Solidariedade. Eu em particular, que fui em duas das três missões, fico ainda mais alegre e entusiasmado. Não só pelo dever cumprido de militante comunista e internacionalista que sempre fui, quanto por rever muitos amigos muito especiais que deixei na Palestina. 0 comentários * Sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Colunista da Revista Sociologia da Editora Escala, da Fundação Maurício Grabois e do Vermelho. Foi professor de Sociologia e Ciência Política da UNIMEPentre 1986 e 2006. Presidiu o Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo de 2007 a 2010.Recebe mensagens pelo correio eletrônico lejeunemgxc@uol.com.br. * Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.

domingo, 23 de março de 2014

50 Anos do Golpe Militar - Homenagem a memoria de Ramirez Maranhão do Vale

Ramirez foi um das primeiros amigos de juventude com quem compartilhei o meu interesse pela luta politica. Morávamos no mesmo bairro e durante um bom tempo apanhávamos o mesmo enibus para irmos para escola. Ambos eramos não apenas adversários da ditadura nosso sentimento era de que eramos inimigos dela e que nossa tarefa era encontrar um caminho para derrota-la. E ai divergíamos de forma acalorada. Eu defendendo o caminho institucional e ele em defesa da luta armada. Pouco tempo depois perdemos o contato. Ramirez mergulhou profundamente em sua escolha politica de combate a ditadura. Só voltei a ter noticias de Ramirez mais de dez anos depois quando estava envolvido na campanha pela Anistia e o meu irmão mais velho me mostrou uma reportagem no jornal Em Tempo em que seu nome aparecia na lista dos desaparecidos pela ditadura. Ramirez nunca foi encontrado. A noticia que se tem é que ele foi torturado e morto junto com mais um companheiros e duas companheiras na praça da Sentinela em Jacarepaguá no Rio de Janeiro em !973. Seus corpos foram carbonizados e sepultados em uma vala l comum para indigentes. Militante do Partido Comunista Revolucionário Brasileiro quando foi assassinado tinha vinte e dois anos. Passados cinquenta anos do golpe militar vejo com preocupação crescente essa ofensiva da direita mais reacionária em trazer de volta para a luta politica a intenção de um novo golpe. Continuo acreditando e lutando pela institucionalização da politica . Homenagear a memoria de meu amigo Ramirez é continuar a luta e manter a minha esperança que aprofundar a democracia consolidando suas instituições é o melhor caminho para garantirmos os avanços no campo social, politico e econômico para os trabalhadores e trabalhadoras. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Vulnerabilidades e resistências da população negra

O racismo têm estruturado violências que restringem as oportunidades de desenvolvimento de negro/as e de acesso às políticas públicas, a proteção social, a justiça e aos direitos, tais opressões provocam restrições de liberdade, discriminações, estigmatizações e humilhações. Diante dessas desigualdades tem papel fundamental as lutas de resistência, em particular a ênfase na rememoração e afirmação de um legado afro brasileiro. No Brasil com a abolição da escravatura a população negra não conseguiu uma inserção qualificada no mercado de trabalho, por inúmeros motivos, dentre eles a presença do estigma de seres inferiores, perigosos ou criminosos, sujeitos destituídos de ética e moralidade no trabalho, trabalhadores braçais desqualificadas e ignorantes, o que acabou por bloquear oportunidades de crescimento profissional; bem como não logrou êxito em elevar o nível de escolaridade em igualdade com as populações não negra. Esses dois aspectos foram fundantes para a reprodução histórica das desigualdades raciais, retraduzidas em baixo nível de escolaridade, baixo status socioeconômico, racismo institucional, perda de expectativa de vida e outras violências. De acordo com a Nota Técnica do IPEA – Vidas Perdidas e Racismo no Brasil (Nov./2013) há a prevalência de homicídio entre os negros, principalmente o jovem negro, pois para cada homicídio de não negro, 2,4 negros são assassinados em média. Quando consideradas todas as violências letais, ou seja: homicídios, suicídios e acidentes –, os homens de cor negra são os que apresentam a maior perda de expectativa de vida - 3,5 anos de vida, contra 2,57 dos homens de outra cor/raça. Os dados revelam que mais de 39 mil pessoas negras são assassinadas todos os anos no Brasil, contra 16 mil indivíduos de todas as outras etnias/raças. Diante de tantas vulnerabilidades é preciso dizer que a população negra tentou e tenta resistir historicamente, e o fez de diversas formas com estratégias politicas diferentes, pela constituição dos Quilombos, com as revoltas (dos Alfaiates (1798), da Chibata (1910)), pela via da cultura e religião – Irmandades religiosas e religiões de matriz Africana, imprensa negra, clubes negros, fóruns, conferências de promoção da igualdade racial, conselhos de políticas e outros. Nesse dia Nacional da Consciência Negra, para além de uma data comemorativa, significa um momento de reflexão sobre a presença persistente do racismo nas nossas práticas cotidianas, de denúncia do mito da democracia racial, da dificuldade de acesso a justiça e a educação. A demanda no tempo presente volta-se para efetivação da igualdade racial, de politicas de redução das desigualdades raciais, através das ações valorativa como a lei 10.639/03 e afirmativa como as cotas raciais no ensino superior e no mercado de trabalho, como oportunidades de reafirmar perfis identitários negros e de maior valorização da cultura negra. Zelma Madeira Doutora em Ciências pela UFC Professora da Universidade Estadual do Ceara

sábado, 16 de novembro de 2013

Crime e Castigo

Com todo o respeito pela historia politica dos dois principais réus da ação penal 470 e considerando que o julgamento tem de fato uma dimensão politica é certo que a "companheirada" do PT utilizou métodos de ação politica que eles até então, fazendo uso de uma retórica moralista liberal, sempre condenaram. Retórica que eles apropriaram não das tradições da esquerda, mas do pensamento conservador brasileiro que sempre pronunciou um discurso hipócrita de combate a “corrupção”. Um breve olhar sobre a história das ideias politica que influenciaram e continuam influenciando a consciência politica dos inicialmente incipientes e hoje cada vez amplos setores das camadas medias urbana mostram que esse gosto pela indignação moral é cada vez mais presente. Esse partido nasce, portanto, com a marca do liberalismo moral pequeno burguês, bem ao gosto desses setores. Vai dai que ele acabou se enroscando em seu próprio veneno A logica do processo que possibilitou a chegada aos principais postos de gestão do aparelho de estado do país foi porem implacável. Inclusive aquela que levou ao principal lugar politico desse aparelho: a presidência da republica. E não tenho duvida ele ( essa logica do processo politico) cobrou o tributo que lhe era devido. São as contradições e os limites de um governo democrático popular eleito pelo voto direto das grandes massas gerenciando a ordem burguesa. Uma delas é o de considerar que em nome de um processo mudancista, de um programa de governo mais popular todas as ações podem ser consideradas legitimas e por esse entendimento estão acima da legalidade formal imposta pela legislação vigente. Ainda vão ser alvos por muito tempo de muitas criticas dos setores reacionários e conservadores por conta disso. Se existe uma "culpa" que possa ser imputada ao ex-ministro José Dirceu e ao Deputado Federal José Genoíno ela é de fato politica. Os dois dirigentes no momento de suas prisões ressalta isso com veemência. O que põe na ordem do dia do debate a seguinte questão: o que pode ser tipificado como “crime politico” em uma democracia cujos fundamentos se orientam por princípios marcadamente liberais. Nesse sentido a construção de uma legislação que criminaliza a influencia do poder econômico na disputa pela via eleitoral do poder politico vai gerando contradições difíceis de serem superadas. Isso em cenários de disputa eleitoral em que os custos das campanhas tornam-se cada vez mais caras. O chamado “mensalão” é só a ponta de um iceberg de bases muito profundas. O embate que ocorreu no Supremo Tribunal Federal, ao contrario do que alguns afirmam, não foi o de um julgamento marcado pelo arbítrio. É bom lembrar que os ritos foram seguidos dentro de parâmetros próprios do poder judiciário. O que se viu foi um debate em que os ministros defendiam teses diferentes em relação à inocência ou culpa dos réus. É inegável que todos eles tiveram direito a ampla defesa, realizadas por advogados escolhidos livremente. As divergências doutrinárias entre os ministros expostas publicamente e divulgadas incessantemente pela mídia e redes sociais. Vale ressaltar ainda que todas as decisões sempre foram tomadas por maioria de votos. Pode-se fazer uma critica ideológica ao resultado, lamentar as implicações politicas e tudo mais, o que não se pode é não reconhecer sua legitimidade. A defesa moral dos réus é que os fundos arrecadados não foram obtidos com finalidade de atender interesses privados. Tudo bem é fato certo e sabido até porque não existem evidencias objetivas disso ou provas em contrario que essa afirmação é verdadeira. Pelo menos até onde se tem noticia um dos réus o deputado Jose Genoíno não possui fortuna pessoal relevante e que continua morando em seu sobradinho suburbano. O seu proposito foi o de servir a um projeto politico com o qual estava comprometido. Essas razões ai não o livram de ter cometido o equivoco politico de avaliar uma ação politica que o partido dele sempre condenou e continua condenando. É bom ressaltar que ele não foi julgado por apropriar fundos em seu interesse privado, mas por ter apropriado fundos, ainda que como mostre as evidencias eram fundos privados, no interesse de seu partido. E o que é mais complicado contrariando "princípios" que seu partido afirmava defender. É o preço politico que o PT esta pagando pela hipocrisia de seus dirigentes que sempre combateram esses financiamentos que receberam. Ou achavam que a "justiça" da ordem burguesa não ia atingi-los. Passariam ao largo sem que seus adversarios cobrassem a fatura politica de suas açoes. Desvelar equívocos políticos com origem na ideologia não é tarefa simples. Fosse o PT de outra tradição politica à esquerda certamente Dirceu e Genoíno teriam que fazer uma autocritica exemplar. Manoel F V Motta (16/11/2013)

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ENEM 2013

Vejo com otimismo a realização de mais um exame nacional que seleciona estudantes para ingresso nas universidades federais.É muito bom verificar que o ENEM vai a cada ano incluindo um numero cada vez maior de jovens. Sou daqueles que sempre tem a esperança de que da quantidade inevitavelmente sai a qualidade. País de escolarização tardia os indicadores de ingresso na escola vão deixando de ser um "obelisco" ( como afirmava Anisio Teixeira), mostrando que esse tempo, que infelizmente foi o meu, começa a ser superado e timidamente vai se transformando numa pirâmide cuja base começa a incluir milhões de jovens "bárbaros" filhos e filhas da multidão de analfabetos que foram historicamente excluídos da escola

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

NÃO A CRECHE DE MEIO PERÍODO

Pensar em creches, educação infantil é pensar no direito social da criança garantido pela constituição Brasileira de 1988 que reconhece a educação infantil como dever do estado e, esse reconhecimento veio e se tornou possível pela incansável luta de diversos movimentos, entre eles o movimento das mulheres, os movimentos comunitários, o movimento dos trabalhadores e o movimento dos próprios profissionais da educação. Desde então o processo de revisão das concepções sobre a educação de crianças em espaço coletivo tem sido constante e intenso na busca de uma maturação das práticas pedagógicas dessa modalidade de educação tem-se buscado prioritariamente discutir sobre como orientar o trabalho junto à criança de zero a três anos. A educação infantil como vemos hoje é resultado de um grande avanço mediado por muito esforço, estudo e dedicação de muitos profissionais imbuídos do desejo de avançar cada vez mais no desenvolvimento da criança. Em Rondonópolis esse trabalho tem sido aprimorado anos após anos. No final da década de 70 a oferta da educação infantil neste município pelas instituições públicas era quase inexistente. Num ato corajoso e destemido da carítas diocesanas de Rondonópolis nas pessoas do padre Lothar e da saudosa professora Wilma Boach Francisco inicia e mantém por muitos anos nada menos do que 40 creches de período integral e parcial atendendo a mais de 2 mil crianças nos bairros mais carente da cidade. Já nessa época apesar da precariedade dos (prédios) estruturas físicas, o trabalho pedagógico e a preocupação com o bem estar e a segurança da criança era muito grande. Nos últimos anos o Município passa ofertar de forma menos tímida essa modalidade de educação, porém não o suficiente para atender a grande demanda reprimida há muitos anos. Para agravar ainda mais a situação as novas legislações dão conta de que as creches Caritas já não atende mais as exigências, especialmente no que diz respeito aos espaços físico fazendo com essas creches sejam repassadas a esfera Municipal e essas crianças são distribuídas nas creches já existentes e, claro isso contribui para reprimir ainda mais a demanda já existente. A realidade hoje muito tem nos preocupado, pois estamos convivendo com creches superlotadas e uma pressão muito grande e o tempo todo para aumentar ainda mais a quantidade de crianças nas unidades e, nós sabemos que isso não só não vai resolver o problema como está adoecendo nossos professores e corre-se o risco de sérios acidentes dentro destas salas, simplesmente porque é quase impossível um professor conseguir atender a 12/13 crianças na faixa etária de dois a três anos que é a quantidade de criança por adulto e isso claro sem observar a legislação que reza sobre a quantidade de criança por espaço q se não me falha a memória no estado de Mato Grosso é de 1,37 m e ao que tudo indica a situação se agravará ainda mais nos próximos anos em que se fala de atendimento em creche por meio período e ai cabe a pergunta: Qual é a função da creche? Segundo o que me consta e o que diz a Lei de Diretrizes de Base esta primeira etapa da educação tem como dever Educar e Cuidar da criança de zero a cinco anos, no período diurno, e em período integral ou parcial, vale lembrar que historicamente Rondonópolis sempre ofertou essa modalidade em período integral para que de fato se pudesse atender a mãe trabalhadora, de outra forma perderia em parte a razão de ser e praticamente deixaria de contribuir com essas mulheres mães trabalhadoras que continuariam tendo que deixar seus filhos nas mãos de babas, lembrando que esta é uma profissional já quase inexistente nos dias de hoje uma vez, que o pólo industrial e comercial em franco desenvolvimento na cidade tem se utilizado do trabalho feminina que claro, tem preferência por esses espaços de trabalho e então as creches já não teriam a função que tem hoje o que seria sem dúvida um grande retrocesso, especialmente se olharmos todo esforço e trabalho coletivo nos anos anteriores por grandes profissionais, para chegarmos aonde chegamos e agora darmos não só um, mas vários passos p trás sem atentar para as consequências dessa atitude, principalmente, para classe trabalhadora de Rondonópolis isso é no mínimo demonstrar pouca preocupação com a realidade de nossas crianças é andar na contramão das políticas sociais deste país. Esperamos sinceramente que nossos gestores tenham a sensibilidade de pensar a Educação infantil como um dever do estado e um direito da criança e dê aos pais o direito de opinar já que são eles quem paga os impostos deste Município e os principais interessados nesta discussão afinal serão eles também os maiores prejudicados se isso de fato vier a acontecer. Luzia Aparecida do nascimento Professora na rede Estadual e Municipal em Rondonópolis- MT