terça-feira, 14 de setembro de 2010

A Questão do Aborto no Processo Eleitoral em Mato Grosso

Banalizar um tema da maior seriedade como o do aborto na base do á favor ou contra é um profundo desrespeito ao sofrimento de milhares de mulheres que tiveram um dia de se submeter à interrupção de uma gravidez. Imagino e apenas só imagino, pois a natureza de minha condição masculina impede de vivenciar esse sentimento, a angústia, o medo, a solidão e a dor da imensa legião de mulheres que tiveram que fazer essa opção.
O que leva uma mulher a interromper uma gravidez? Por que uma gravidez se torna algo tão indesejado para uma mulher que se vê forçada a interrompê-la?
Invocar apenas razões religiosas e morais nesse debate é insuficiente. Qualquer pessoa com responsabilidade social e política sabe que a questão é muito mais profunda. O que está posto em discussão nesse momento é uma possível modificação na legislação que implicaria em sua descriminalização. Essa é uma pauta que não da para escamotear utilizando apenas argumentos fundados na religião e na moral. É necessário que se diga que não esta em discussão no congresso um projeto Herodes para que inocentes mulheres grávidas sejam indiscriminadamente submetidas a abortos forçados.
Sei que no calor da disputa eleitoral apresentar o adversário como um possível defensor de uma indiscriminada matança de indefesos e inocentes fetos e se apresentar como um paladino em defesa de românticas gestações bem sucedidas de lindos e sorridentes bebezinhos é uma tentação para candidatos e marqueteiros que gostam de ver o circo pegar fogo.
A idéia é que esse tipo de postura possa render uma meia dúzia de votos de homens e mulheres religiosos e de boa fé que por suas convicções não concordam com interrupções da gravidez. No meu entendimento essa postura não ajuda ao debate democrático de questão.
A realidade do aborto nesse país é um fato que preocupa os profissionais de saúde da mulher. Dados de entidades como os da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Estatística revelam que 25% das mulheres em idade reprodutiva já abortaram pelo menos uma vez. É uma leviandade política e moral não levar em conta esses números no debate em curso no congresso.
De maneira silenciosa e clandestina sua pratica, afirmam esses profissionais, reproduzem o lugar social de onde elas vêem. As mais endinheiradas recorrem aos préstimos de profissionais que aceitam realizar na ilegalidade essa pratica ou viajam para o exterior e interrompem a gravidez em países em que o aborto é permitido. As imensas legiões das mais pobres vão engrossar a perversa estatística de abortos clandestinos feitos em condições sanitárias precárias e com riscos de morte.
A decisão de se submeter ou não a um aborto é em ultima instancia da mulher. Ela é que dá a ultima palavra sobre o prosseguimento ou não da gravidez. Afinal é no seu corpo que se desenvolve a gestação. Essa decisão que pela legislação atual implica em pratica criminosa conduz uma multidão de mulheres a um território de risco. Condenadas desde o momento de sua decisão a guardar silencio durante o resto de suas vidas, a carregar o peso de ter desobedecido à lei e a execração moral pela tradição religiosa.
Tenho o maior respeito e carinho por todas as mulheres que um dia por alguma razão tiveram que interromper em risco e sofrimento a gravidez.
Manoel F V Motta – Analista político, doutor em educação e professor da UFMT

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