quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Analfabetismo e Consciência Política

Garoto nordestino Francisco Everardo Oliveira Silva como milhares de outros garotos do seu tempo não teve acesso a escola. Se teve foi de forma precaria como milhões de crianças que tem origem no mesmo lugar social e economico que ele. Artista de circo, semianalfabeto e dono de um talento capaz de mobilizar com sua criatividade aprendida e desenvolvida nos picadeiros da vida mais de um milhão de eleitores e eleitoras do estado de maior desenvolvimento economico do pais.
Artistas populares nordestinos que ficaram fora da escola não é novidade na cultura popular da região. Talentos da sua e de outras gerações que não frequentaram os bancos escolares não foram impedimento para que com criatividade e brilho produzissem um trabalho notavel e contribuissem como poucos para a riqueza da cultura popular desse pais.
Artistas populares de baixa escolarização e de grande talento costituem uma imensa legião de poetas, musicos, artistas plasticos e artesãos. Destaco entre uma lista que poderia ser interminavel os nomes de Patativa do Assare( grande poeta das dores e amores do sertanejo ) Luiz Gonzaga, Mestre Vitalino, João do Vale, Jackson do Pandeiro, Pinto de Monteiro
A concepçao do analfabeto como incapaz tem raizes no Brasil da segunda metade do seculo XIX quando ainda no imperio foi aprovada a primeira lei que restringia o voto do analfabeto. Medida essa que foi incluida em 1891 na primeira constituição republicana. É bom lembrar que o primeiro censo feito no Brasil republicano registrava uma população de 70% de adultos analfabetos.Os que estavam nessa condição necessariamente ficavam de fora da possibilidade de participação nos poderes de estado que eram escolhidos pelo voto.
Essa imensa massa de homens e mulheres considrados incapazes passam a ser tutelados pela elite letrada formada basicamente por bachareis em direito e medicos. Foram necessarios cerca de cem anos para que o direto ao voto fosse universalizado pela constituiçaõ de 1988 que finalmente reconheceu o direto ao voto do cidadão e da cidadã que não são alfabetizados.
Esse entendimento do analfabeto como incapaz começa a mudar a partir da emergencia dos movimentos de educação popular que passa a compreendeer o analfabeto como um sujeito responsavel pela geração de riquezas e possuidores de conhecimento e sabedoria que os caracterizaria como pessoas responsaveis pela sua propria vida e pelo seu destino .Nessa perspectiva o exemplo daqueles trabalhadores que mesmo analfabetos ou semi alfabetizados se tornaram mestres em seus oficios. Ao longo de todo o seculo xx era comum encontrar mestres de obras, pedreiros, carpinteiros, marceneiros, mecanicos e mais um sem numero de profissionais competentes que não tinham tido acesso a escola. Analfabetos muitas vezes sim mas não incapazes como pregava o ideario da elite letrada do seculo XIX.
Ainda que tenham conquistado o direito ao voto permanece essa exdruxula proibição que impede quem não é alfabetizado possa ser votado. É espantoso que em pleno seculo XXI a sociedade continue considerado o analfabeto como “incapaz” politicamente. Como se o fato de não saber ler e escrever o torne incapaz de realizar uma leitura do mundo suficientemente critica que não lhe permita tomar decisões de interesse publico no parlamento.
É necessario que se tenha claro que não é o menor ou maior nivel de escolarização que determina a consciencia politica de quem quer que seja. A consciencia politica é fruto do entendimento que se vai construido ao longo da vida em torno de opções relacionadas com interesses economicos,sociais e culturais. É esse mergulho no cotidiano da existencia que vai forjando a consciencia politica de homens e mulheres. Não é a toa ou por acaso que a opção por candidaturas do eleitor ou da eleitora analfabetos coincidem com a daqueles do maior nivel de escolarização.
Ainda que se possa como a professora Zelma Madeira considerar que como artista popular ele partilha codigos de uma cultura racista e sexista, considero que isso não lhe tira a legitimidade como cidadão apto a repressentar sua imensa massa de eleitores e eleitoras
Os meus respeitos ao palhaço Tiririca que demonstrou ser um artista popular amado por seu povo conquistando pelo voto popular um mandato de deputado federal. Parabens meu estimado palhaço espero que a elite letrada não usurpe seu mandato legitimamente obtido pelo voto livre e democratico depositado pelo povo nas urnas.
Manoel F V Motta

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