quarta-feira, 18 de maio de 2011

A onda

O espetáculo que se descortinou à nossa frente
vai muito além de qualquer imaginação.
Qualquer imagem é mais do que eloquente
e o assombro é total perante tal demonstração

De uma tsunami, nada está salvo.
Ela não tem necessidade de alvo.
Não há uma contra-força que a enfrente;
nem mesmo os delírios de uma mente.

A força sísmica que se repete com frequência
não vê obstáculos que venham a lhe fazer frente.
Resta apenas amenizar suas consequências
Expondo, assim, nossa fragilidade inteiramente.

Ondas indomáveis e gigantescas
brincam com navios como se fossem brinquedos.
É uma visão pavorosa e dantesca
encontrar-se no meio deste enredo.

A onda... Como evitá-la?
Existe forma de denominá-la?
Como poderia classificá-la?
Haveria alguma forma de amainá-la?

A água deixa de ser líquida e vira um muro gigantesco.
Parece que com as outras catástrofes não tem parentesco.
Só o medo mobiliza nesta situação,
e voltar ao normal passa a constituir-se em uma obsessão.

É possível desvendá-la, conhecê-la,
porém, não há como mudá-la.
Não há como puni-la, convencê-la.
Resta somente aceitá-la.

Não há sorrisos em sua ação.
Tudo é monstruoso.
Seu poder é fabuloso,
despertando medo e comoção.

Ultrapassa qualquer expectativa.
Vai muito além de nossa capacidade previsiva.
Os litorâneos vivem o temor de que um dia chegará,
sem avisar, sem pedir licença ou alvará.

A razão a explica conformada,
pouco importa se de forma real ou deformada.
Nem adianta estar preparado,
porque, na hora, algo pode dar errado.

Tudo isso ultrapassa a razão.
Explicar não basta.
Ela tudo devasta,
no caminho de seu arrastão.

Diante dessa demonstração colossal,
o sofrimento é apenas um componente da paisagem.
Tudo é destruído com extrema voragem,
diante de sua vazão descomunal.

Não há como construir o solo onde se pisa
Não há firmeza no solo que ela visa.
Parece que vivemos em uma nau instável.
Tudo aos nossos pés é mutável

Dor não combina com revolta nesses momentos.
Só o fato de estar vivo já é uma concessão,
que demanda de todos união,
dada a magnitude desses eventos.

Muitas vidas foram embaralhadas
e certezas de antes agora dão em nada.
Muitos corações estarão condoídos,
e os ânimos de todos estarão moídos.

Quando o fenômeno é de grande termo,
não há ambiente para sentir dó de si mesmo.
É uma lição de abismo onde se percebe tão minúsculo,
cuja força não se pode contrapor com os músculos.

A vida acaba vencendo,
seja pela teimosia ou submissão.
Fatos novos e descobertas vão acontecendo
na vida daqueles que encaram nisso uma missão.

Na preparação para o próximo evento,
pode-se até tentar um certo aprovisionamento,
No entanto, tudo será sempre um desafio
de um esforço que pode durar anos a fio.
[BSB – 12/03/2011 (Lab. Sabin)]

Geraldo José de Almeida - Poeta e Historiador

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