sexta-feira, 29 de abril de 2011

POR UM 1º DE MAIO FESTIVO POR UM 1º DE MAIO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

Há quase duas semanas, venho tentando refletir sobre algumas temáticas que me inquietam.

Primeiro, pensei em escrever sobre trabalho, o tema está presente nas disciplinas que ministro na licenciatura. Depois, tentei iniciar um texto falando sobre o 1º de maio em Mato Grosso. Por diversas vezes iniciei, parei, deletei e, eis que dois fatos me instigaram a concluir essa digressão: o primeiro foi o artigo do jornalista Kleber Lima dessa semana – Tempo alvissareiro – e o segundo, a paralisação e manifestação dos servidores públicos federais ocorrida nesta quinta-feira (28 de abril), que ganhou as ruas de Cuiabá.

Minha intenção é ponderar sobre os temas que são abordados pelo jornalista e que já me intrigavam desde que vi as primeiras chamadas, na TV, para as comemorações do 1º de maio – dia do trabalhador – no estado.

Quando li seu artigo, imediatamente me lancei à busca da obra Teoria dos movimentos sociais – Paradigmas clássicos e contemporâneos – de Maria da Glória Gohn que sabia estar perdida em minha estante. Estou relendo para retomar algumas contribuições, uma vez que a leitura inicial ocorreu quase 10 anos atrás. De toda forma, não divirjo de que as instituições sociais estão em transformação. Logo, compreendo, não é uma “nova sociedade civil que emerge no planeta”, mas sim, uma que se transforma com características diferentes da “sociedade civil tal qual a conhecemos”, assumindo novas formas de ação e vivência em decorrência de necessidades que são do nosso tempo, do nosso momento histórico.

Concordo também que, em se tratando do movimento sindical em geral e de Mato Grosso, muita coisa mudou nos últimos 40 anos. Isso porque, segundo Ricardo Antunes, a globalização, a reestruturação produtiva e a crise que o movimento operário enfrenta desde a década de 1970, têm grande intensidade e atingiu “a materialidade e a objetividade do ser-que-vive-do-trabalho” sua “consciência de classe, afetando seus organismos de representação, dos quais os sindicatos e os partidos são expressão”.

Ainda que nos últimos 08 anos, após uma intensa ofensiva neoliberal, os trabalhadores tenham aberto um período de maior valorização do trabalho e do trabalhador, é certo que o neoliberalismo não foi derrotado. Ele ainda vive e aspira um retorno triunfal. E eis onde reside outra preocupação: assim como o governo Lula, o da presidente Dilma também é um governo de disputas entre as forças. Vencerá essa parada, quem tiver maior poder de mobilização.

Infelizmente, parece-me que nesse primeiro momento, não são os trabalhadores quem tem levado a melhor: o governo cortou 50 bilhões de reais do orçamento; de novo assistimos a pressão por conta da volta da inflação, das altas taxas de juros, do ajuste fiscal; projetos que flexibilizam conquistas e privatizam, gradativamente, a educação e a saúde voltam à pauta. Políticas sociais são secundarizadas em detrimento da política econômica. No plano estadual, a lógica se repete.

Na era de grandes avanços tecnológicos é natural que a criatividade também precise ser reinventada para tocar as “mentes e os corações” dos brasileiros, dos trabalhadores. Não sou, absolutamente, contra eventos de massa, que mobilizem milhares e milhares de pessoas, que tragam alegria, festa, diversão e, porque não, prêmios!

O que chama atenção, porém, nas atividades convocadas para o 1º de maio no Mato Grosso é o fato das entidades, diga-se as Centrais Sindicais, abdicarem de, nesse processo, tratar da elevação do nível da consciência política com um caráter político-pedagógico, “inserindo as lutas que nascem espontaneamente num direcionamento revolucionário que capte a totalidade das relações sociais e busque a sua superação”, conforme abordado por Lênin e outros.

Tive o cuidado de buscar nos sítios de todas as Centrais no estado (ou dos sindicatos ligados a elas); ouvir as entrevistas concedidas pelos dirigentes, assistir as chamada na TV, buscar panfletos (in)formativos que cumpririam esse papel, mas, nada encontrei além do convite para as atividades com uma nota de roda-pé (as vezes nem isso, como no espaço publicitário do jornal A Gazeta).

Outra Central, que não integra o pool de entidades promotoras do show, transferiu sua comemoração para o interior do estado – não que o interior não o mereça, mas é na capital que o protagonismo dos trabalhadores ganha visibilidade.

Penso ainda, que às vésperas do 1º de maio, as Centrais, todas elas, perderam uma oportunidade impar de utilizarem as diversas manifestações que ocorreram no estado para imprimirem esse caráter político-pedagógico ao qual me refiro, uma vez que, se ausentaram das mesmas: os professores da rede pública estadual paralisaram por 01 dia; outros segmentos estaduais realizaram atividades específicas e, inclusive, fecharam acordos coletivos; servidores da saúde municipal pressionaram vereadores e ocuparam a prefeitura; servidores federais paralisaram, o IFMT e UFMT realizaram a maior manifestação pública de rua ocorrida nos últimos 08 anos (salvo engano), por servidores federais contra políticas conservadoras e neoliberais.

Por fim, penso que a lição desse 1º de maio que deve ficar, para todos os trabalhadores e dirigentes de Mato Grosso é que, buscar alternativas criativas de mobilização é importante, mas de nada adiantará se não ocorrer, concomitante e continuamente, um processo de conscientização, sob pena de cair no obscurantismo.

Marilane Costa – Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisas “As Vicissitudes da Sociedade Brasileira” (IFMT/ UFMT/ UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB.

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