sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Ética e a prática do jornalismo

Todo cidadão que decide investir na carreira de jornalismo deve entender que, uma vez profissional, está ali para informar a população, podendo constituir, subsidiariamente, uma fonte de distração e entretenimento. Se a função do jornalista é informar a sociedade, então significa que, em primeiro lugar, que a coisa mais importante dos meios de comunicação, a única coisa mais importante são as suas notícias (principalmente os profissionais de Rádio e Televisão, que são concessões públicas, portanto, pertence ao povo, claro). Não são as suas emoções. Os jornalistas não é a notícia, e, embora pese a crescente pressão motivada por uma concorrência feroz entre os chamados Mass Media(*), não deve nunca confundir-se com ela.
Sendo os meios de comunicação, concessões/empresas, que produz e divulga informações e notícias, não pode servir interesses criados, nem outros interesses, a não ser de informar. O jornalista não serve para desacreditar pessoas ou instituições, pagar favores, perseguir inimigos, encetar campanhas, comprometer-se com ações de propagandas ou servir de trampolim para se atingirem fins velados de natureza pessoal.
A única coisa que o jornalista faz, de forma rigorosa e fundamentada é divulgar fatos atuais de interesse geral - as notícias. Se, eventualmente, tais fatos, desacreditam ou abonam a favor de pessoas ou instituições, é algo que cumpre aos leitores concluírem a partir da leitura dos tais fatos que os meios de comunicação noticiam.

A verdade é que acaba sendo um pouco decepcionante ter que usar as palavras "investir" e "carreira" na mesma frase em que se descreve a prática do jornalista. Pois a mídia, no sistema capitalista, se submete ao mercado. É um bem da vida com valor comercial apurável. Assim, o que interessa mesmo é a versão, nem sempre o fato. Sabe- se que o jornalista se exerce por uma profissão exposta a grandes tentações... A começar pelo salário que, por ser defasado, submete o profissional a prevaricação. Na era em que a informação é dinheiro, custa crer que o interesse econômico se subordinará aos cânones éticos. Mas infelizmente o distanciamento daquilo que parecia ser o sentido democrático original do jornalismo - a liberdade de expressão - faz com que a atividade de jornalista tenha servido muitas vezes para dar continuidade aos projetos do monopólio de políticos e famílias dominantes: assim como a chamada “propriedade cruzada" (quando um mesmo grupo ou família pode ter TV, rádio, jornal e revista, e reforça as relações entre grupos de mídia e as oligarquias tradicionais), em inúmeros casos, principalmente em pequenos municípios, o ‘trono’ é quase hereditário, já que, no geral, as mesmas famílias e políticos obtém todos, ou quase todos, veículos de comunicação.

Moral da história: a lei da ética

É bem verdade que a linha que separa a moral, a lei e a ética é naturalmente muito tênue. No entanto, é preciso entender que cada um desses conceitos trata de situações bem específicas: em termos gerais, a moral se detém à obediência das regras de conduta, costumes e normas universais; as leis se baseiam na moralidade para estabelecer parâmetros de comportamento aos membros de uma sociedade; e a ética é o que orienta as pessoas com o objetivo de se chegar ao bem coletivo a partir das práticas individuais, através da capacidade de cada um de julgar o que é “bom” ou “mau”.

Assim, fica fácil entender que nem sempre o que é legal é ético, do mesmo modo que nem tudo que é ético necessariamente deve ser legal. E é aí que se origina grande parte do esvaziamento da prática do jornalista – uma atividade social que se encontra bem no meio desses conceitos –, por conta da supervalorização das questões legais em detrimento da ética.

Ou seja, no âmbito do jornalismo é muito comum que as medidas ‘corretas’ ou ‘justas’ sejam tomadas muito mais para evitar uma eventual responsabilização criminal e civil (quando muito) do que por se tratar de uma motivação pela ética. Exemplo são os chamados "direito de resposta".

Enfim, para concluir, é preciso entender que mesmo não sendo sempre uma exigência legal, a ética é, sim, algo ‘legal’ de se praticar. E mais legal ainda é que nós, ‘juízes’ legítimos do jogo democrático (o povo), estejamos atentos a esse tipo de prática, já que em muitos casos a tenuidade da situação, além de alguns outros fatores, impede que o pulso da Justiça atue de maneira efetiva.

Em suma, como vivemos em uma sociedade governada pela informação, cabe a nós, pelo menos, enquanto não se abrem ou não se melhoram os caminhos efetivos para uma participação mais direta, no acesso e produção das informações, identificar os veículos de comunicação que não têm os deveres do compromisso e da independência, para assim barrar o projeto deles (empresários da mídia) de se tornarem os donos da verdade para a população, como muitos ainda pretendem ser. Afinal, é o povo quem detém os espaços das rádios e TV’s, e abrem as concessões para terceiros, ocupar estes espaços. Pois, pelo menos em tese, o povo que é o verdadeiro dono da democracia. Em tese.

* O termo mass media é formado pela palavra latina media (meios), plural de medium (meio), e pela palavra inglesa mass (massa). Em sentido literal, os mass media seriam os meios de comunicação de massa (televisão, rádio, imprensa, etc.). Porém, esta denominação sugere que os meios de comunicação são agentes de massificação social, o que nem sempre está de acordo com a realidade social observável.


Pablo Rodrigo Ramos – É jornalista em formação pela UFMT, Membro do Conselho Estadual de Educação – CEE-MT e Membro da Comissão Política do PCdoB - MT

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