quinta-feira, 7 de abril de 2011

POR UMA CUIABÁ PRÓSPERA, BELA E HUMANA

No aniversário de 292 anos de Cuiabá, resolvi expressar meu carinho por essa cidade, na qual cheguei ainda adolescente, trazendo à baila o debate do que seria uma Cuiabá próspera, bela e humana.

Inspirada na Revista Princípios, edição nº 97, de agosto de 2008, que estampava em sua capa “As cidades podem vencer”, numa alusão não só a Carlos Drummond de Andrade, mas ao debate que se anunciava em seu editorial: “Um país forte se ergue em cidades prósperas, belas e humanas”, resolvi refletir sobre a cidade de Cuiabá a partir dos artigos e autores ali constantes que, sob diversos aspectos, defendem a necessidade de uma reforma urbana que considere: a relação entre a cidade e o campo; a história da formação da cidade e da propriedade privada; a valorização do espaço público e a habitação; o transporte público coletivo como fator de democratização dos benefícios urbanos; a escassez de água potável; a valorização do planejamento e do urbanismo em médio e longo prazo.

Traduzir minha inspiração em uma contribuição pareceu-me fácil quando pensei em todos os aspectos que me seduziram nessa cidade: sua gente, sua cultura, seu calor, suas águas, a capital com jeito de interior. Mas, extremamente difícil quando me lembro da irritação que sinto quando utilizo o transporte coletivo, sempre lotado; do lixo que se acumula na porta de meu prédio; dos buracos nas ruas; da gradativa diluição da cultura cuiabana em detrimento da valorização de uma cultura para o povo e não do povo; da falta de saneamento básico; do pouco investimento em educação e do caos na saúde. Mais difícil ainda, ao refletir na perspectiva dos milhares de trabalhadores que habitam a periferia dessa cidade. Ali a situação é de completo abandono.

Penso que num momento em que discutimos um novo projeto nacional de desenvolvimento, Cuiabá não pode mais ficar aprisionada a um modelo de desenvolvimento urbano que “privou as faixas de menor renda de condições básicas de urbanidade e de inserção efetiva à cidade”.

Tenho acompanhado, através dos meios de comunicação, os dilemas e problemas em torno das ações e dos preparativos para a Copa de 2014. Inclusive, vi um time de trabalhadores, paramentados em camisetas amarelas, na rotatória da UFMT, pondo a mão na massa, literalmente (e só espero que essas ações não fiquem restritas “onde o padre pisa”). Isso é bom, Cuiabá está necessitada e, quer dizer que finalmente, a máquina está em movimento, porém não é o bastante.

O que percebo nesse processo, é a ausência de um planejamento articulado e integrado, de médio e longo prazo, envolvendo poder público, empresariado e com a participação popular – condição imprescindível para que os interesses do conjunto da sociedade e dos trabalhadores sejam respeitados.

Se a Cuiabá do século XIX se modernizou, conforme evidencia a professora Elizabeth Madureira, a Cuiabá do século XXI precisa se tornar próspera, bela e humana. Mas, isso só será possível se o nosso povo e dirigentes compreenderem, entre outras coisas, que o transporte coletivo está relacionado ao direito de ir e vir e deve ter qualidade, regularidade, ser confortável e suficiente; tarifas devem ser barateadas e ciclovias construídas.

O saneamento básico – protagonista de uma verdadeira cena de novela de horário nobre – deve primar pelo abastecimento, sem interrupções, de água potável, coleta e tratamento de esgoto, coleta e tratamento de resíduos sólidos e de manuseio das águas fluviais. Acredito que isso faria um bem danado para os nossos lindos córregos e rios, especialmente o Rio Coxipó e Rio Cuiabá.

A cultura, segundo Célio Turino, é o fio condutor que une o direito à saúde, ao transporte, à moradia, à escola, ao trabalho e só com ela “conduziremos nossa sociedade à igualitária democracia, recolocando os cidadãos no caminho da emancipação humana”. E o povo cuiabano está desejoso que a sua cultura adquira centralidade, expressas em políticas públicas, pois sabem da necessidade de sua difusão e circulação.

Acho que é essa a Cuiabá que perseguimos; “tchapa e cruz” ou “paus rodados”, queremos continuar amando essa cidade, comendo peixe no São Gonçalo, admirando o Rio Cuiabá, atravessando a Prainha, cantando e dançando o Siriri/Cururu, ouvindo rasqueado, a viola de coxo e repetindo “eu me orgulho de ser um cuiabano...”. Com qualidade de vida!

Marilane Costa – Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisa As vicissitudes da Sociedade Brasileira (IFMT/UFMT/UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB.

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