terça-feira, 12 de abril de 2011

GUERRILHA DO ARAGUAIA:A ATUALIDADE DA UNIÃO PELA LIBERDADE E PELOS DIREITOS DO POVO

“Nem tudo é tudo quando abril desce. Nem tudo é tudo quando abril floresce. Nem tudo é susto quando abril se tece”.

O dia 12 de abril é dedicado a um episódio da história brasileira pouco divulgada: A Guerrilha do Araguaia.

Movimento armado que ocorre da necessidade de se enfrentar a ditadura militar, a Guerrilha teve lugar no sul do Pará e na região do Bico do Papagaio (então GO), entre os anos de 1967, quando começa a se organizar e, 1974 quando se finda.

Adalberto Monteiro, no Prefácio da 4ª Edição de “Guerrilha do Araguaia – Uma epopéia pela liberdade” ressalta que “Na história do Brasil, os oprimidos, na maioria das batalhas que travaram, tiveram que empreendê-las duas vezes – a primeira, para protagonizar a resistência, a luta, a conquista, o fato histórico em si; a segunda, para divulgá-lo, fazê-lo reconhecido oficialmente e conhecido do conjunto da nação”. E os últimos anos têm sido destinados a sua divulgação, ao reconhecimento oficial – principalmente com a abertura de seus arquivos – do que reivindicavam os heróis que ali tombaram.

Chama minha atenção, entre os diversos documentos publicizados, a “Proclamação da União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo – ULDP”. Apesar do tempo decorrido, verifico, ainda é um documento atual e pertinente para quem, como nós, vivemos no Centro-Oeste brasileiro, num estado – Mato Grosso – que ainda que se diga rico, sofre, contraditoriamente, com o atraso e problemas estruturais.

De forma sucinta, os Guerrilheiros do Araguaia manifestavam as dificuldades enfrentadas pelo povo pobre que vivia no interior do país, no norte e nordeste, em regiões como o Pará, Goiás e Mato Grosso que, viviam na ignorância e no abandono.

A terra estava concentrada nas mãos de uma minoria; os camponeses, quando não expulsos de sua terra, labutavam ao lado de mulher e filhos sem resultados suficientes para atender as necessidades mínimas e, se conseguissem uma boa safra, não tinham como transportá-la; essa situação era agravada pelas enfermidades, uma vez que não havia médicos, medicamentos e, a alimentação era precária; não havia escolas, professores e, poucas pessoas sabiam ler ou escrever; os impostos eram exorbitantes e não retornavam como serviços, até porque, as prefeituras do interior não possuíam dinheiro ou autonomia; a falta de empregos e perspectivas levava as pessoas a abandonarem as pequenas cidades em busca de trabalho; a violência e arbitrariedades já presentes na vida desse povo se intensificam com a ditadura militar.

Esse quadro levou à seguinte questão: “Que deseja o homem do interior?” Respondiam: Terra para trabalhar e título de propriedade de sua posse; Facilidade para deslocamento da produção através de diferentes meios de transporte e financiamento; Proteção à mão-de-obra dos que trabalham nos castanhais, na extração da madeira ou nas grandes fazendas; Regulamentação das atividades dos garimpeiros; Redução de impostos que recaem sobre o trabalho da terra e sobre o pequeno comércio; Assistência médica por meio de postos instalados em zonas e distritos; Criação de escolas nos povoados; Fim da arbitrariedade da polícia contra o povo; Proteção à mulher, ajuda à maternidade; Trabalho, instrução e educação física para a juventude, ajuda à criação de clubes, centros recreativos e culturais; Respeito a todos os religiosos; Liberdade para reunir-se, discutir seus problemas, criticar autoridades, exigir seus direitos, organizar associações, eleger, sem pressões seus representantes.

Militarmente a Guerrilha fracassou, mas deixou ensinamentos. Mais de quatro décadas depois, em que pese as profundas transformações vividas pela sociedade brasileira, com o fim da ditadura militar e a redemocratização do país, a ofensiva neoliberal e a experiência de 08 anos de um governo popular, a união pela liberdade e pelos direitos do povo continua sendo uma necessidade, pelo menos em Mato Grosso.

Unir o povo e os trabalhadores desse estado (lavradores, vaqueiros, garimpeiros, peões, pequenos e médios comerciantes, juventude, homens e mulheres, “todos que querem o progresso da região e a felicidade de seus habitantes”) em torno de reivindicações como: emprego de parte dos impostos arrecadados para o desenvolvimento das cidades; elaboração de planos de urbanização e desenvolvimento em todas as cidades, com construção de estradas, pavimentação de ruas, instalação de luz e água, serviços médicos, manutenção de escolas, construção de casas; defesa da agricultura familiar e da terra indígena com respeito a seus hábitos e costumes; obrigação de reflorestamento; apoio a iniciativas de caráter progressista, à pequena e média indústria e ao artesanato e a criação de postos efetivos de trabalho não é saudosismo ou algo já superado. É o que está colocado, ontem e hoje, para um estado que pretende próspero.



Marilane Costa – Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisa As vicissitudes da Sociedade Brasileira (IFMT/UFMT/UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB.

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