sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Existe um mal estar com essa história de polícia na universidade.


Os recentes acontecimentos na Universidade de São Paulo em que dezenas de jovens foram desalojados do prédio da reitoria por uma tropa de choque da polícia militar recolocaram novamente na ordem do dia a questão da presença das forças policiais nos campi das universidades. Afinal qual seria mesmo o papel da policia nessas instituições de ensino, pesquisa e extensão ? Vigiar o "patrimonio" ( imoveis, moveis e semoventes)? Cuidar da observação da "moral e dos bons costumes" (seja lá o que isso for)? . O fato é que essa presença tem provocado um estranhamento no qual fica evidente que provavelmente ela não é a melhor alternativa para os problemas de segurança no interior dos campi.
Se de uma lado tem-se correntes do movimento estudantil que eventualmente consegue articular-se e bancar um gesto como esse de "ocupar" uma reitoria, por outro lado tem-se um reitorado frágil que não consegue evitar que isso aconteça, a consequência quase obvia é um desfecho como esse. “Ocupar" a reitoria foi uma decisão política e mandar "desocupa-la" usando força policial também. Temos que discutir politicamente os dois gestos. No meu entendimento esse é o foco do debate .
Quem é essa moçada que pensa, articula e realiza uma ação política como essa? Em sua maioria são garotos e garotas que cursaram durante anos as melhores escolas do estado de São Paulo e deram conta de ultrapassar a barreira de um dos vestibulares mais dificies do pais. Entrar na universidade, seja na USP ou em qualquer outra instituição de ensino superior de ponta desse país, para eles e elas é uma espécie de corolário quase natural da formação que receberam.
São jovens politizados, estudiosos. Sempre tiveram, em sua maioria, apoio familiar para que desenvolvessem suas habilidades e que tem no movimento estudantil sua porta de entrada para a luta política. Tradicionalmente é também daí que saem os quadros dirigentes do pais tanto para vida pública como para o setor privado.
Episódios com esse da “desocupação” liberam todo o rancor represado contra esse jovens “privilegiados” que no entender de muitos se desviaram da rota de bom mocismo que eram esperados deles. Não é a toa o que tem sobressaido no debate é a ideia de que a principal reinvidicação do movimento é a possibilidade de fumar maconha sem serem importunados pela força policial no campus. Pode até ser verdade, mas quando procura-se analisar com mais cuidado a realidade é outra.
A debilidade da reitoria em enfrentar essa situação ficou evidente ao longo do processo. Dialogar com essa moçada não é tarefa política simples. Boa parte os dirigentes das universidades não tem vivência democrática suficiente para lidar com essa geração que não conheceu o arbitrio da ditadura militar. Já nasceram em um ambiente em que a liberdade de pensamento e a livre participação politíca é um valor posto desde o inicio de sua formação. Dai o desfecho típico de gestores sem autoridade política o recurso a força policial.
Na medida em que se acirram as contradições a luta ideológica também se acirra. A tolerância diminui de lado a lado. Impotente para conter a inquietação dos jovens diante das contradições vivenciadas no dia a dia da vida acadêmica, a burocracia dessas instituições revelam todo o seu despreparo. Esse despreparo se revelando na necessidade de se impor não mais pelo convecimento, mas pela clássica saida que marca a natureza do estado moderno: o exercicio do monopólio do uso da força.

Historicamente a Universidade em todo mundo se assume como um espécie de territorio livre em que caberia desde a mais inusitada teoria sobre qualquer dimensão do real a experimentação de vivências que iriam desde o consumo de maconha ao sexo casual.

É necessario entender com isso que nas universidades dificilmente politicas de segurança, semelhantes a essas que estão em moda nas comunidades, de “pacificação” com a presença massiva da força policial tem muito pouca probabilidade de dar certo.

O desafio posto aos gestores das instituições de ensino superior sejam as vinculadas ao estado ou a empresários da educação é como lidar com as demandas existenciais, nos limites institucionais, de alunos e alunas seja as de fundo libertário sejam aquela de tradição conservadora. Por essa razão tem-se de pensar e propor políticas de segurança que atentem as caracteristicas das instituições universitárias. Apelar de forma tosca para o uso de forças policiais não vai resolver os problemas de segurança nessas instituições.

Ao mesmo tempo que os ideiais democráticos em defesa da livre expressão e da produção autonoma do conhecimento estão presentes na universidade, existe hoje uma forte onda conservadora e ela atinge principalmente os jovens. Só espero que ela não se transforme em forças do arbitrio e do terror. É nessa perspectiva em defesa desses valores que vamos a duras penas construindo uma universidade mais democrática no Brasil

Manoel F V Motta – Doutor em Educação pela USP e professor na UFMT

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Por uma Cuiabá do Tamanho dos nossos sonhos!


Um fato: A Prefeitura e a Câmara Municipal não representa nenhuma expressão política na Capital, não reflete os anseios do Povo Cuiabano que não sente representado.

Com todo o respeito pela história judiciária do Senador Pedro Taques , que, no passado, antes de seu recente Caciquismo e personalismo no PDT, combateu o crime organizado e a corrupção, é de se estranhar o anúncio de sua oferta, entregando o "seu" PDT da capital para possível candidatura de Mauro Mendes a prefeito de Cuiabá.

O que precisamos em Cuiabá é de novas lideranças com novas idéias.

E isso não tem necessariamente a ver com idade, mas principalmente com a necessidade de colocar na prefeitura e câmara municipal lideranças sintonizadas com o novo tempo que o Brasil começou a inaugurar a partir do governo de Lula. E digo isso não necessariamente olhando para o PT.
O governo de Lula e também o de Dilma não são patrimônio somente do PT e sim fruto da histórica luta de gerações de brasileiros que lutaram e continuam lutando para viabilizar um novo modelo econômico, político e social para o Brasil.

Isso não será representado em Cuiabá, nem por Mauro Mendes, nem por Dorileo e nem por Serys. Provavelmente também não por Pedro Taques, que na ânsia de delimitar espaços com o PMDB e PT, acabou aliado dos tucanos e DEM, ficando na mesma penumbra que buscou fugir ao entrar na Política.

A cidade precisa pensar grande, a partir de seu povo. Que cidade teremos ao chegar em 2014? Como superar problemas que se arrastam há séculos como a falta de saneamento básico?
Integrar os bairros hoje ao centro, a partir do transporte coletivo de qualidade é uma necessidade e uma medida tomada a décadas por outras cidades do mesmo porte.

Temos necessidade de superar problemas básicos como atendimento á saúde, educação e habitação para tratarmos de projetos estratégicos como a necessidade de um metrô de superfície e obras de infra-estrutura que possam contribuir no desenvolvimento econômico para o turismo, por exemplo.

Para isto não servirão os velhos métodos de caciquismo, nomeação de amigos, compadres e parentes para candidaturas e dirigir secretarias como atualmente. Da mesma forma montar alianças de fachadas apenas eleitoreira. Trabalho duro, inteligência e olho no futuro é o que o novo prefeito e os novos vereadores precisa ter.

Portanto, é hora de Avançar, é fazer com que a nossa Prefeitura e Câmara Municipal saia desse comodismo que se encontra. É trazer a Câmara e a Prefeitura para perto do Povo, ou melhor, Colocar os filhos do Povo lá dentro através de boas candidaturas que avance a luta Popular, com idéias elevadas no ano que vem.
Isso não é uma formula, talvez um bom exemplo.

Pablo Rodrigo Ramos é Jornalista em formação, Cuiabano, Pai do Lucas e Membro da Comissão Política do PCdoB em MT

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

SOBRE A ÁGUA E O PRÍNCIPE

Como disse em meu último artigo, violência não rima com desenvolvimento e nem com democracia.
E os acontecimentos ocorridos em Cuiabá – capital do Estado que por vezes se proclama, com orgulho, ser o “celeiro do mundo” – são incompatíveis com os princípios democráticos que tanto ouvimos falar e, juramos, exercitar. O motivo, o destino da água!
Refletindo sobre os fatos, fui buscar na história, explicações para entender o presente. Foi incrível descobrir que a água, segundo Elizabeth Madureira, já foi considerada um dos aspectos de modernização da Cuiabá do século XIX; suas fontes públicas representaram “um importante espaço social, local de encontros e de desencontros, de lazer e de prazer"
Hoje, água cá prá nós, é sinônimo de conflitos, violência e falta de democracia. Infelizmente, os principais atores nesse cenário são membros do executivo e do parlamento municipal. Antagonistas do povo. Pelo menos nessa contenda. Eu, particularmente, diria que em muitas outras, mas atenho-me a essa.
Assistindo a uma entrevista do prefeito de Cuiabá, Chico Galindo, a um canal de televisão, enquanto ouvia sua argumentação e contemplava sua expressão plácida, referindo-se à privatização da água, me lembrei da virtù, de “O Príncipe” e a partir daí estabeleci algumas comparações e similaridades, num exercício peculiar e particular.

Antes com o autor da obra, Nicolau Maquiavel que viveu em um período de transição, da Idade Média pra Idade Moderna, a Renascença, quando a técnica e a conquista científica, aliadas a efervescência cultural ganharam importância e, consequentemente, trouxeram grandes transformações.
Galindo vive e é gestor em uma capital brasileira, num momento – um recém inaugurado século XXI – em que uma “janela” se abre com a perspectiva de transformação ampla, como diz Márcio Pochmann. Ou seja, num momento em que a retomada de um novo projeto nacional de desenvolvimento coloca as cidades num patamar onde conquistas sociais e econômicas interagem e, aliados ao desenvolvimento científico e tecnológico, podem trazer melhorias para a qualidade social de vida de seus munícipes.
Comparações com a obra: A primeira diz respeito ao modo como um príncipe conquista o principado: “com armas alheias ou próprias, por sorte ou mérito”. Galindo, eu diria, foi com armas alheias e sorte, ou a falta dela, já que Wilson Santos era o príncipe, digo, prefeito.
Outra é que “Sorte e vontade são duas coisas volubilíssimas e instáveis. E, apesar disso, tais príncipes não sabem e não podem manter o governo: Não sabem porque não são homens de grande engenho e virtude e não é aceitável que, administrando sempre interesses privados, entendam a coisa pública”. Eis aí outra das similaridades. Não é de hoje que estamos convivendo, entre outras coisas, com a questão da débil coleta do lixo, do transporte coletivo de péssima qualidade e essa eterna “novela” da água em Cuiabá. É óbvio que esses problemas não tiveram início neste governo, mas sem dúvida nenhuma, vem se agravando fortemente.
Ao mesmo tempo, recebemos consternados, mais uma vez, a notícia de que o município está perdendo milhões de investimentos do PAC por conta dessa concepção privatista neoliberal emanada da prefeitura para a Sanecap. São os interesses privados sobrepondo-se ao público. E quando a coisa aperta quem paga a conta são os trabalhadores, que já estão sendo demitidos.
Sobre as estratégias de ataque e defesa dos principados Maquiavel analisa: “Já está evidenciado como um príncipe necessita de sólidas bases para que não se arruíne”. Ele discorre, então, sobre os exércitos de mercenários e as tropas auxiliares. Sobre os primeiros ele diz que não oferecem garantia e sossego ao príncipe porque “são desunidas, ambiciosas, indisciplinadas, infiéis, garbosas perante os amigos e covardes diante dos inimigos”. Já os segundos, “são quase sempre danosas aos que a utilizam, porque, se derrotadas, derrotados estão as que a utilizam e se saírem vitoriosas passam a dominar as que as solicitaram”. E essa parece ser a relação estabelecida entre o prefeito e a ampla maioria de vereadores de Cuiabá, no episódio da Sanecap.
Arregimentados por Galindo – não sei bem em que bases – os vereadores infringiram todos os preceitos democráticos. Votaram a matéria da privatização e não discutiram, nem ouviram a população, reagiram com violência e força policial a todas as manifestações do povo e criminalizaram ações de quem se mostrasse contrários aos seus interesses. Agiram como o verdadeiro exército acima descrito. Restando saber, qual o grau de “garantia” e “sossego” que propiciaram ao prefeito e vice-versa.
Por fim, dois destaques ainda sobre a obra: “Acentuei que o príncipe deve evitar atos que o tornem odioso e desprezível e sempre que assim o fizer estará agindo com acerto” e “O que mais contribui para que um príncipe seja estimado é a realização de grandes empreendimentos e a prática de atos edificantes”. Em minha opinião, Galindo e os vereadores de Cuiabá perderam uma ótima oportunidade de evitar a aversão popular e realizarem grandes feitos e atos edificantes. Tudo isso com “chapéu alheio”! Ou seja, com recursos do PAC, do governo estadual e o empenho da Agecopa.
Entretanto, salvos temporariamente pelo povo rebelado e pelo Ministério Público, ainda a tempo de reconsiderarem. Basta recuarem, independente da decisão judicial.

Marilane Costa – Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisa As vicissitudes da Civilização Brasileira (IFMT/UFMT/UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB. laneacosta@gmail.com

terça-feira, 2 de agosto de 2011

VIOLÊNCIA NÃO RIMA COM DESENVOLVIMENTO

Nos últimos tempos, venho expressando, cada vez mais, meu interesse em discutir a questão do desenvolvimento, mais acentuadamente, o de Mato Grosso. Isso vem se traduzindo através de projetos de pesquisas apresentados, artigos e eventos realizados.
Para quem chegou há 25 anos e resolveu aqui se assentar, fazendo – conscientemente – deste Estado sua opção de educação e trabalho, de convivência social e política, esse é um longo percurso.
Não precisaria dizer novamente o que me fez adotar Mato Grosso como a “minha terra”, “meu ponto de partida e meu ponto de chegada”, mas é sempre bom reforçar que foi o seu povo alegre e expansivo; a sua cultura permeada de sincretismos, das festanças, dos festivais; o calor humano e do sol de mais de 40º em novembro; suas águas no rio Coxipó e no Cuiabá, no Araguaia, no Paraguai, Rio Vermelho, Teles Pires ou Guaporé que me fizeram aqui ficar.
Quando penso nessa diversidade, fico mais convencida ainda de que devemos nos lançar na tarefa de contribuir para que no decorrer do século XXI este Estado supere suas debilidades e se edifique democrático, com superação das graves desigualdades, valorização do trabalho, emancipação das mulheres, proteção ao meio ambiente, com saúde, educação, cultura e lazer para todos.
Entretanto, pensar o desenvolvimento de Mato Grosso fica embotado quando temos que lidar, ainda, com a prática retrógrada da violência: cotidiana, escancarada ou silenciosa, histórica e, de difícil superação. Nos últimos tempos, voltamos a assistir a exacerbação de diferentes formas de violência retratadas nos meios de comunicação.
O nosso histórico e relação com o que chamo de violência são desconcertantes. Como não sou uma estudiosa do tema, mas sim uma “palpiteira”, remonto memórias de uma época (de minha chegada em Mato Grosso), em que a população vivia assustada com crimes cometidos por cidadãos do próprio estado, que devia protegê-los. O Portão do Inferno, diziam antigas histórias, era desova de desafetos. Enquanto isso, crimes de violência doméstica, contra a mulher, assaltos, roubos, assassinatos de toda ordem, chacinas e execuções continuaram acontecendo.
A luta pela redemocratização do país, a intensa participação dos movimentos sociais, o enfrentamento ao neoliberalismo, entre outros eventos, permitiram que gradativamente, Mato Grosso fosse virando essa página. Tanto que denúncias de trabalho escravo e infantil foram libertando homens, mulheres e crianças de uma vivência degradante. As chacinas foram condenadas veementemente pela população. A polícia foi se humanizando. Houve um período de um legítimo aceno para uma cultura de paz.
Os últimos acontecimentos, entretanto, me remetem a duas obras: uma do escritor italiano Norberto Bobbio “O futuro da democracia” e outra de Edson Teles e Vladimir Safatle “O que resta da ditadura”.
Na primeira, Bobbio diz que “a democracia não goza no mundo de ótima saúde, como de resto jamais gozou no passado, mas não está à beira do túmulo”. Isso significa dizer que, algumas práticas de violência precisam ser coibidas imediatamente, pois as mesmas não condizem com o exercício democrático que nos lançamos no Brasil nas últimas três décadas.
Sobre essas práticas de violência ocorridas nos últimos meses em Mato Grosso, cito entre outras, a agressão sofrida por uma jornalista, no exercício da profissão, em Pontes e Lacerda, praticada por um vereador do município; o assassinato do prefeito de Novo Santo Antônio; o assassinato do jornalista Auro Ida em Cuiabá (independente da motivação do crime: passional ou, mais grave ainda, político); a ameaça de punição feita pelo presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, vereador Júlio Pinheiro ao vereador, Lúdio Cabral, que vem se colocando contrário aos privatistas da SANECAP e, a violência emanada do poder municipal contra os manifestantes que querem apenas “água”!; a violência simbólica contra os movimentos sociais e, mais especificamente, contra o movimento sindical que vem tendo todas as suas ações reivindicatórias criminalizadas e consideradas ilegais neste Estado, quando trabalhadores lutam pela valorização do trabalho, condição imprescindível para qualquer processo de desenvolvimento.
Considero, portanto, que o futuro de nossa democracia fica comprometido quando essas violências pairam sobre nós. E é aí que a frase de Edson Teles ganha significado, para além de sua abordagem sobre a ditadura quando escreve Entre a Justiça e a Violência: “(...) não eliminaremos as balas perdidas se não apurarmos a verdade dos anos de terror de Estado de modo a ultrapassarmos certa impunidade. Pois a bala perdida é, como o silêncio e o esquecimento, o ato sem assinatura pelo qual ninguém se responsabiliza”.
Consideremos “bala perdida” a título deste artigo, todas essas práticas violentas, antidemocráticas, retrógradas e que buscam intimidar quem ousa levantar vozes contrárias ao velho, ao decadente. Isso por certo, não rima com o desenvolvimento pretendido pelo povo mato-grossense.

Marilane Costa - Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisa As vicissitudes da Civilização Brasileira (IFMT/UFMT/UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB. laneacosta@gmail.com

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Corrupto da Vez


Não consegui entender o "linchamento" moral e político do diretor do DNIT Luiz Antonio Pagot mesmo depois de sua fala no Senado e na Câmara. Depoimento realizado de forma espontânea publica e no fórum adequado. O que esperavam dele? Um depoimento sensacionalista, leviano cheio de insinuações a moda da revista Veja sem provar nada?
Bobagem isso não aconteceu nem quando o congresso promoveu um verdadeiro festim de encenações histriônicas quando alguns parlamentares de oposição ao governo Lula interrogavam os depoentes com um fervor digno de um espetáculo teatral de circo mambembe. Por ironia da historia os que apareceram naquele momento como arautos da moralidade publica permanecem como parlamentares inexpressivos. E segundo reportagem da revista Carta Capital tentando sofregamente passar para a base do governo Dilma.
Quem analisar sem paixão o seu longo depoimento nas duas casas perceberá que ele se ateve a dois eixos de argumentação: o primeiro é que todas as decisões eram colegiadas e o segundo era o que de todos os procedimentos eram fiscalizados e acompanhados pelas instituições designadas para esses fins. Com dados objetivos foi sendo mostrado aos congressistas detalhes de como estavam sendo tratado cada um dos problemas apontados. Não me lembro de nenhuma contestação relevante ao que foi apresentando por nenhum parlamentar das duas casas. Alem do mais nenhuma pergunta ficou sem resposta.
O que interessa agora é saber se os seus argumentos são verdadeiros ou falsos.

Com o fortalecimento da sociedade civil pós ditadura foram sendo criadas, ou fortalecidas, instituições de regulação e controle que tem o papel de inibir que corporações, empresas ou indivíduos em articulação com os grupos políticos - ideológicos no poder se beneficiem indevidamente da massa de recursos financeiros posto a disposição da sociedade pelo Estado. Recursos que devem servir a implementação de políticas publicas e de investimento e custeio da estrutura do estado. E o caso de órgãos como os Tribunais de Contas, do Ministério Publico e das Controladorias. Se não funcionam é o caso de perguntar com já se fazia no século XIX quem vigia o vigia quando esta em pauta os interesses econômicos em uma sociedade organizada segundo regras inspiradas no liberalismo econômico, social e político.
Quando cursava o ensino médio lá pelos anos sessenta do século XX estudando a revolução francesa aprendi com a trajetória de Robespierre que essa historia da condenação da corrupção de forma emocional pode conduzir a julgamentos que desprezam os fatos, produzindo injustiças e no limite ao arbítrio do terror. Lembro que por essa época, para ser mais preciso Dezembro de 1968, um dos argumentos para o AI-5 era o combate a corrupção. O que se viu depois foram anos de arbítrio e de corrupção.
Outro dado importante em seu depoimento foi o de que essa autarquia vem sofrendo um acelerado processo de precarização de seus quadros técnicos em contrapartida a ampliação de suas responsabilidades e da grandiosidade das tarefas que lhe estão atribuídas. Ninguém lhe contestou. É bom lembrar que esse processo de precarização dos aparatos estatais é o resultado de uma visão político - ideológica que considera que investir na profissionalização do funcionalismo contratando quadros técnicos qualificados e com salários compatíveis com sua formação é desperdiçar o dinheiro publico, é inchar a maquina do estado.
É evidente que corporações, empresas e indivíduos financiem candidaturas identificadas com seus interesses políticos e econômicos. As chamadas bancadas de interesses como a ruralista, para falar só de uma das mais conhecidas, tem suas candidaturas e os seus partidos financiados prioritariamente por esse setor da economia. Com a construção civil não é diferente.
É republicano e democrático que corporações, empresas e indivíduos financiem os partidos e as candidaturas, nos limites e parâmetros da legislação, que contemplem seus interesses. A não ser que se mudem as regras atuais de financiamento de campanhas e elas passem a ter financiamento publico. Fazer de conta que isso não acontece, ou não existe é ingenuidade ou hipocrisia.
Não sei qual o propósito ou o alcance da tal “faxina” que a presidenta Dilma afirma que está realizando no ministério dos transportes. Tudo bem mãos a obra presidenta. Agora em que lugar ele vai encontrar a legião de anjos, acima do bem e do mal, tecnicamente neutros capazes de tomarem decisões justas e desinteressadas sem qualquer viés político ou econômico é que vai ser difícil. Sem novidades.
Tudo bem concluído o “fora Pagot” logo, logo outro grande corrupto vai estar na vitrine para a execração dos incorruptíveis de plantão nas redes sociais, blogs e mídia de oposição ao governo. Bom mas isso faz parte do jogo de aparências e das querelas ideológicas. A questão agora é saber quem será o herdeiro deste espolio que o PL esta deixando escapar de sua área de influencia política
O resto é cretinice do jornalismo denuncista da Veja, Folha de SP Estadão e Globo
Manoel F V Motta - Professor da UFMT

sexta-feira, 8 de julho de 2011

OS TRABALHADORES E A FÓRMULA GLOBAL DE CONQUISTAR UM REAJUSTE SALARIAL


Depois de anos de experiências diversas nas lutas e movimentos dos trabalhadores por melhores condições de vida e trabalho, chego hoje a conclusão de que estava totalmente equivocado. Que não havia necessidade de tantos enfrentamentos, greves, embate com as forças de segurança, sindicato, etc., pois, tudo poderia ter-se resolvido com uma simples conversa amistosa, mansa e delicada entre patrão e empregado. Sim, é isso que uma dupla de apresentadores de um telejornal da Globo, nesta manhã de inverno mato-grossense, me jogou impunemente na cara como ensinamento.
A reportagem foi bem urdida, inclusive plasticamente. Uma moça esguia, bonita, de fala fluente e bem articulada é apresentada em um escritório como funcionária deste, insatisfeita com os seus vencimentos e disposta a reclamar ao seu chefe aumento salarial. A repórter recorre a um “especialista” (que Gramsci identificaria como intelectual orgânico do Capitalismo) em recursos humanos para recolher deste, orientações sobre como deveria proceder um trabalhador para pedir e receber aumento salarial. O “especialista” dá diversos conselhos: não se emocionar, não falar dos seus problemas, falar da sua contribuição para o crescimento e sucesso da empresa, etc.; e, caso o patrão lhe respondesse com um sonoro não, alegando falta de condições financeiras para conceder o reajuste, o trabalhador não deveria se revoltar, mas perguntar ao patrão o que ele (empregado) deveria fazer para que a empresa crescesse, melhorasse o seu faturamento (lucro) e, assim, tivesse as condições para lhe atender ao pedido.
Os professores das redes municipais de ensino de alguns municípios mato-grossense fizeram greve este ano por reajustes salariais, os da rede estadual estão em greve, os bombeiros de diversos estados da Federação fizeram greves com graves enfrentamentos, os funcionários da SEMA-MT fizeram greve, os da Saúde Pública, também; diversas outras categorias ameaçam paralisar suas atividades por melhores salários e outras reivindicações. Segundo a reportagem todos esses estão equivocados, não é assim que se consegue ter as reivindicações atendidas; bastaria um diálogo manso, delicado, individual, sem tumulto, sem assembléias barulhentas, sem passeatas, etc., para que seus respectivos patrões, públicos ou privados, atendessem as suas reivindicações. Entretanto, caso os patrões não pudessem atender, os trabalhadores deveriam indagar candidamente sobre o que eles deveriam fazer para melhorar as condições econômicas da empresa e, assim, terem suas reivindicações atendidas mais tarde.
A reportagem é um deboche com a história e com a inteligência dos trabalhadores, tal como fazia Delfim Neto quando ministro da Fazenda no governo dos militares: o ilustre intelectual do Capital dizia que era necessário fazer o “bolo” (a economia) crescer para depois reparti-lo com todos. De fato, o bolo cresceu, por obra e sacrifício dos trabalhadores brasileiros, mas quem o comeu não foram os trabalhadores e sim os grandes empresários, os grandes proprietários rurais e donos de bancos, dos quais Delfim era preposto. Agora, de forma melodramática tentam nos convencer de que a sociedade não está dividida entre os que tem e os que não tem a propriedade dos meios de produção, de que os interesses dos empresários são os mesmos interesses dos trabalhadores, aliás, que não existe trabalhadores, mas “colaboradores” e que, portanto, não há a necessidade destes se organizarem em sindicatos, associações, etc., para reivindicar melhores condições de vida e trabalho. A reportagem extingue, com meia dúzia de palavras ensaiadas pela jornalista-atriz e com cenas comoventes como se de um filme de Akira Kurosawa, a luta de classes, a mais valia e a natureza, enfim, do Capitalismo. Quê fazer?
Lembrei-me de uma entrevista dada por Professor Paulo Freire a uma revista de circulação nacional, quando questionado sobre o poder que a fala, o discurso, de um professor-educador teria diante da força de um meio de comunicação de massa, capaz de “fazer a cabeça” de milhões de pessoas ao mesmo tempo no Brasil inteiro. Com a sua serenidade característica Paulo Freire respondeu (palavras minhas) que aquele meio de comunicação, por mais abrangente e poderoso que fosse não poderia seqüestrar a realidade em sua totalidade, de modo que, apenas como parte da realidade ele era cognoscível e, assim, podia ser re-conhecido, interpretado e reduzido à sua condição de instrumento da dominação. A fala do saudoso professor faz aflorar mais a necessidade que a maioria da sociedade brasileira tem de uma escola vinculada aos seus interesses, às suas necessidades e, portanto, de professores-educadores capazes e comprometidos com suas funções de intelectuais orgânicos dessa maioria. Essa perspectiva exige professores-educadores com uma determinada competência, competência que, para além de formar gente para o “mercado”, seja capaz de elevar intelectualmente essa gente para uma compreensão superior da realidade e, desse modo, inserirem-se conscientemente no processo de recriação material e espiritual da sociedade em que vivemos.

Elismar Bezerra - Ex Secretario de Cultura de Mato Grosso e mestrando em educação na UFMT

sexta-feira, 3 de junho de 2011

MULHER E PODER


Convidada para contribuir com o II Congresso Estadual da União Brasileira de Mulheres – UBM/MT –, “Mulher, Poder e Trabalho”, ocorrido no dia 21 de maio, numa mesa nominada “Mulheres e Poder Político – Panorama Nacional e Estadual” refleti que, no campo filosófico pondera-se como estabelecemos a relação entre política e poder; poder, força e violência; autoridade, coerção e persuasão; origem, natureza e significação do poder. E mais, se política, de forma simplificada, pode ser entendida como “luta pelo poder”, então estamos falando de “conquista, manutenção e expansão do poder”. Para que se exerça o poder, é preciso “força”.

Partindo desse pressuposto, poderia fazer uma abordagem teórica acerca das diferentes correntes de pensamento sobre a temática, uma vez que, ao responder essas questões, cada corrente o fará expressando suas concepções. Essa abordagem é importante, mas julguei-a desnecessária para o momento proposto.

Mais importante, pra mim, naquele momento, era discutir com as mulheres que todos nós, em cada espaçozinho que vivemos disputamos o poder. O poder de... A tendência é que as pessoas rejeitem e neguem que o poder, mesmo nas suas relações cotidianas: pais e filhos, companheiro e companheira, professor e aluno, empregador e trabalhador.

Também julguei importante destacar o artigo A Crise do Homem, do jornalista José Carlos Ruy, na revista Presença da Mulher de 1993. Nele, Ruy reconhece que as mulheres são pioneiras e donas da iniciativa de redefinir papéis, de superar “o script tradicionalmente reservado à mulher”. Essa mudança nos scripts a que ele se refere, vem acontecendo em larga escala. Em se tratando Em se tratando de poder, estamos na fase da manutenção e expansão, dialeticamente falando, na fase da conquista. Como diz Elza Campos, Coordenadora Nacional da UBM: “É um marco na efetiva busca pela ampliação dos espaços de poder em todas as organizações da sociedade”.

O Congresso da UBM ocorre num momento impar, o primeiro após a eleição e posse da primeira mulher presidente do Brasil, A eleição de Dilma é resultado de uma série de fatores, mas também de uma vitória do movimento feminista e, mais especificamente emancipacionista, que formou novas mentalidades. Mais significativo ainda, é perceber que a UBM dá centralidade, em seu congresso nacional, as discussões sobre a participação da mulher e o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. E essa foi a minha linha de abordagem: discutir a questão da mulher no Estado de Mato Grosso e a sua participação política passa,
obrigatoriamente, por discutir o desenvolvimento.

Abri mão da exposição do panorama nacional quantificando a participação da mulher por verificar que o mesmo já é de conhecimento amplo e que a participação política das mulheres é imensa, propositiva e em todas as esferas. Comungo, porém, com a Resolução do Seminário As Mulheres e a Reforma Política ao observar que apesar de todos os saltos qualitativos, as mulheres continuam “sub-representadas em relação ao potencial de nossa atuação política”. A Resolução questiona: Até quando o Brasil (acrescento, Mato Grosso) vai conviver com alta participação das mulheres no eleitorado e nas lutas sociais e baixa inserção das mulheres nos espaços de poder?

Em 2008, a pesquisa de Michelli Burginsk (atualmente professora da UFT) constatou que a cultura política em Mato Grsso ainda é a de submissão, ancorada na divisão sexual do trabalho na sociedade; e em fatores familiares e domésticos. Ou seja, mulheres que “ascenderam pela via familiar, particularmente a marital” elegeram-se diretamente ao parlamento federal, as que tiveram suas trajetórias forjadas a partir dos movimentos sociais, o fizeram gradativamente: vereadora, deputada estadual, deputada estadual ou senadora. Já naquele momento, identificava-se uma queda na participação e representação feminina em cargos eletivos. De lá pra cá, esses números diminuíram mais. O cenário no Estado nos remete a considerações desfavoráveis quanto à representação nos espaços de decisões políticas e nos partidos políticos.

Contudo, na tentativa de preenchimento de vagas, muitos partidos têm driblado a legislação. Segundo Michelli, legendas têm utilizado a figura das “mulheres- laranjas”, que não possuem vida orgânico-partidária para compor a cota exigida pela lei. “O interessante é que muitas nessa situação acabam se elegendo”. Isso se aplica, principalmente, nas disputas das câmaras municipais, uma vez que os avanços da mulher na política são mais visíveis nas eleições municipais.

Sem entrar na discussão de classe, da representação e compromissos de classe, destaco que Bia Spineli, Lueci Ramos, Vera Araújo, Chica Nunes, Celcita Pinheiro, Teté Bezerra, Thelma de Oliveira, Serys, Iraci França e Teresinha Maggi são nomes do legislativo e executivo que estiveram em foco, mas por diversas razões vão sendo, gradativamente, “apagadas” desse cenário. Ousaria dizer que – sem entrar em questões internas de partido –, Serys é um exemplo claro de mulher que disputa, violentamente, o poder de dirigir um partido no estado. “O campo político não é somente masculino devido à majoritária presença dos homens, mas porque antes de tudo, traz uma simbologia identificada com os valores masculinos. Além do mais, o ato de comandar e de tomar decisões tem sido historicamente atributos imputados aos homens”.

Algumas atuações e representações nesses espaços, em nosso Estado, foram subsumidas por orientações masculinas, as mulheres se tornaram meros instrumentos. As desigualdades de gênero se refletem nas práticas políticas internas dos partidos. “Historicamente os partidos políticos permaneceram fechados à representação das mulheres”.

Considerando como espaços de poder mais que o parlamento, executivo, judiciário, mas todas as instâncias e instituições sociais, com condições de intervir na transformação da sociedade defendo que as mulheres no Mato Grosso tomem como tarefa um amplo debate sobre o Modelo de Desenvolvimento. Debatê-lo permitirá que conheçam melhor o processo histórico em que se formou o Estado; os modelos de produção que se conflitam: agronegócio e agricultura familiar; questões de trabalho, renda, emprego e economia solidária; a economia do Estado; saúde, educação: inclusiva, não sexista, não homofóbica; a cultura e a mídia; reforma urbana e meio ambiente; a luta contra a violência doméstica e familiar. Isso é a grande política! Articulada de forma tal que, permitirá às mulheres se recolocarem no centro do debate, ocupando espaços sociais e de representação política, indubitavelmente

MarilaneCosta - Mestre em Educação; Professora do IFMT – Integrante do Grupo de Pesquisa As vicissitudes da Sociedade Brasileira (IFMT/UFMT/UNEMAT); Membro da Direção Estadual do PCdoB. laneacosta@gmail.com