quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Temas Historicos

Publicado em www.gazetadigital.com.br

Alfredo da Mota Menezes
Totó Paes, dono da usina de açúcar e álcool Itaicy, conseguiu capital alemão, em 1897, para comprar modernas máquinas e outros apetrechos para sua usina à margem direita do rio Cuiabá, entre Santo Antônio do Leverger e Barão de Melgaço.
O historiador da Universidade de Stanford, Zephyr Frank, que morou e pesquisou em Cuiabá, fez contas e chegou à conclusão que o empréstimo de bancos alemães para a Itaicy de Totó Paes seria o equivalente a quatro milhões de dólares pelo câmbio de 1997.
Totó Paes ficou famoso pela, digamos, sua visão moderna de mundo. Ele construiu casas para seus trabalhadores, havia horário certo para o trabalho, as crianças iam à escola. Um avanço social enorme para os padrões da época.
Os trabalhadores do Rio Abaixo, em outras usinas, viviam quase em escravidão. O Totó Paes inovou. Sua maneira empresarial de atuar amedrontou os outros usineiros. Tem até ponto de vista de que o mataram por esse motivo e não pelo fator político.
Avento a hipótese de que quem exigiu aqueles avanços sociais foram os alemães que emprestaram o dinheiro e construíram a usina. O novo imperador alemão resolvera competir com o capital inglês pelo mundo e, quem sabe, queria atuar de forma diferente que atuavam os ingleses com seus empréstimos.
Esta região, a partir do Prata, cuja base era Buenos Aires, estava sob influência do capital britânico. Os alemães decidiram se fazer presente também. Não dá para acreditar que eles vieram para cá aleatoriamente. Não sei se existem outros casos no Brasil como o de Mato Grosso. Conhece-se caso em Cuba.
Será verdade que os alemães estavam emprestando dinheiro e exigindo avanços sociais a quem os emprestava? Uma atuação radicalmente diferente do imperialismo inglês. A Inglaterra emprestava dinheiro e nem queria saber de resultados sociais ou o que fosse.
Se a hipótese aqui inventada tiver alguma base o que os alemães faziam era algo novo, um capitalismo com face humana.
Dando asas à imaginação, será que essa diferente maneira capitalista de atuar leva a algum desentendimento, como a guerra entre esses dois interesses em 1914? Venceu o modelo inglês (e norte-americano) do capitalismo sem pedir melhoras sociais? Não se tem respostas, são ilações ainda.
Voltando à Itaicy. O empréstimo alemão e os benefícios para os trabalhadores, se foram exigências dos alemães, deveriam merecer uma pesquisa mais aprofundada. Se a hipótese tiver algum fundamento daria uma assunto de repercussão até mundial. E, por sorte, um dos lugares nas Américas onde aconteceu um fato desses foi aqui na beira do rio Cuiabá.
Quer ver outro assunto acoplado ao de cima que mereceria também uma pesquisa? A arquitetura da usina de Itaicy do Totó Paes não é portuguesa, espanhola, brasileira ou, sei lá, cuiabana. Minha impressão é que ela é alemã.
Foi a Alemanha que emprestou o dinheiro, vendeu as máquinas e mandou gente para montá-las na fazendo de açúcar do Totó Paes (o encarregado alemão que veio para esse serviço foi o patriarca da família Reiners). Talvez a arquitetura da Itaicy seja da cidade de onde vieram as máquinas.
Na Europa é comum preservar documentos sobre quase tudo. Quem sabe seria possível encontrar dados dos empréstimos para a Itaicy e também sobre a questão da arquitetura do prédio dessa usina. São assuntos que não teriam dificuldades em conseguir financiamentos para pesquisas, inclusive da iniciativa privada.
Alfredo da Mota Menezes às terças, quintas e aos domingos escreve em A Gazeta. E-mail: pox@terra.com.br; site: www.alfredomenezes.com

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