terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ainda o ENEM

Ao que tudo faz crer os resultados do ENEM não foram catastróficos como previam seus críticos mais severos. Tampouco se pode afirmar que se obteve um resultado que modificou em profundidade o perfil dos que estão ingressando no sistema federal de ensino superior. Agora de uma coisa pode-se estar certo tudo indica que está sendo iniciado um processo de mudança, que ai sim, provavelmente terá efeitos no perfil daqueles que vão ingressar nas universidades e institutos federais nos próximos anos.
Superadas as dificuldades iniciais desse primeiro exame é hora de avaliar os resultados e debater em profundidade essa iniciativa ousada do MEC em mexer no atual modelo de exames para ingresso nas instituições federais de ensino superior. É necessário ressaltar que o ENEM não é uma panacéia que vai resolver à questão da democratização do acesso a universidade. Ele apenas esta propondo substituir um modelo de acesso por outro abrangente e com alcance nacional.
Não foi por acaso que as principais insatisfações contra o ENEM tenham partido de empresários da educação encastelados em preparatórios para o atual modelo de vestibular. É compreensível que tenha partido deles um dos principais focos de resistência, pois vêem ameaçados de ruir da noite para o dia suas estruturas montadas ao longo de quase quatro décadas. Eles têm razão em considerar que a implantação do exame nacional, no tempo em que esta sendo feito, não lhes permitiu saltar do modelo antigo para o novo. É evidente que as famílias que investiram tempo e dinheiro nesses preparatórios ficaram apavoradas com as mudanças. Até então durante anos se viam recompensados com a aprovação de seu garoto ou de sua garota nos concorridíssimos vestibulares do sistema federal de ensino superior , valendo portanto todo o investimento financeiro e afetivo.
Ao que tudo indica o projeto do ENEM desmancha todo esse velho castelo de areia. Essas grandes estruturas preparatórias de fato foram pegas de calças curtas e vão ter que se adaptar as mudanças se quiser sobreviver. Nada contra empresários da educação bem sucedidos, afinal foram eles que compreenderam as mudanças que ocorreram no modelo de vestibular no inicio dos anos setenta do século XX e passaram a oferecer preparatórios eficientes que de fato levou durante décadas milhares de jovens as universidades. Acredito que logo, logo estarão adaptados oferecendo para as camadas e classes que buscam formação, em suas instituições, conteúdos adequados aos novos tempos. Acredito até que logo vão oferecer a possibilidade do estudante escolher em que estado irão realizar seus cursos Essa eventual choradeira inicial, no meu entendimento, não chega a contribuir de maneira relevante para o debate sobre o ENEM.
Por outro lado não dá para considerar com seriedade como um argumento relevante que o processo democrático e legal de realização de uma ação legitima de governo constitua uma “pratica autoritária”. Excluído a “palavra de ordem” da implantação autoritária, levantada por setores do movimento docente e por correntes do movimento estudantil e que não teve maiores repercussões, o processo de implantação do ENEM seguiu as regras republicanas para realização de qualquer ação de governo. Pode-se afirmar ainda que a opção pelo ENEM recebeu aprovação majoritária dos conselhos de praticamente todas as universidades federais envolvidas. Alem disso a proposta do ENEM teve o apoio do movimento estudantil secundarista e da União Nacional de Estudantes.
Continuo considerando que a principal questão, a questão que avalio substantiva nesse debate é o fato de que o ENEM esta se propondo como um exame nacional para ingresso no sistema federal de ensino superior e como referencia para financiamento de vagas pelo Estado em instituições de ensino superior da rede particular. Portanto é nessa questão que deve se centrar o debate.
Outra questão também posta por essa primeira experiência é a da natureza da avaliação. Nessa primeira versão buscou-se seguir uma lógica de avaliação que segundo os seus formuladores favoreceriam aqueles que receberam uma formação no ensino médio qualitativa, menos mecânica e burocrática. Essa orientação tornando a disputa mais democrática o que abriria mais possibilidades ao estudante das escolas publica.
Todos os indicadores mostram que houve uma adesão em massa aos exames. Os índices de não comparecimento foram irrelevantes mesmo considerando-se os percalços surgidos com o adiamento das provas. A correção do exame obedeceu a prazos razoáveis e os resultados foram processados com rapidez. A tendência é que o exame nacional se consolide e que mais universidades federais utilizem o ENEM como critério principal para ingresso em seus cursos.
O ENEM é uma experiência ousada, bem sucedida.
Manoel F V Motta

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