quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Implicações políticas de fragilidades econômicas

Fatos como o que esta envolvendo o vereador por Cuiabá, Toto Cesar, acusado por uma ex-companheira de receber irregularmente durante anos os benefícios do programa bolsa família, mostra como fragilidades econômicas fragilizam politicamente lideranças populares. É pena ver lideranças populares, como ele, fragilizadas por uns trocados de uma bolsa família. Ainda que tenha consciência de que do lugar econômico e social de onde vêm os trocados de uma bolsa família fazem diferença.
E aqui não vem muito ao caso saber se ele foi beneficiado ou não. É a justiça quem esta habilitada para isso e não quero desempenhar esse papel. Não cabe aqui julgar se ele recebeu ou não os benefícios. A minha analise do fato é política e não tenho duvida o estrago político já está feito. E esse é um estrago que não atinge apenas individualmente o vereador, mas as lideranças populares que trilham análogos ao seu.
Eleito primeiro suplente pelo PRTB assumiu o mandato como vereador na Câmara de Cuiabá por força da cassação do vereador Ralf Leite de seu partido. Até então o parlamentar sobrevivia como milhões de trabalhadores desse país à custa de um salário mínimo. É evidente que essa condição não justifica possíveis transgressões por parte de quem quer que seja. Muito menos de quem recebeu um mandato popular.
Sua trajetória política é semelhante ao de milhares de lideranças populares desse país. Inteligentes, quase sempre com habilidades artísticas, se destacam pela sua capacidade de se articular não só com sua comunidade, mas com setores mais amplos da sociedade. Esse tipo de perfil acaba quase que naturalmente desaguando na política. Para o bem ou para mal. É o caso do vereador Toto Cezar.
Sua eleição sendo parte de certa cultura política que ainda insiste em afirmar que vota na pessoa independente do partido, que vota seduzida por comportamentos inusitados (no caso de Toto Cezar em sua campanha andando de bicicleta) e por convincentes apelos morais. Com isso a cada eleição elegendo uma ou outra liderança com características muito semelhante as suas.
Esse entendimento despolitizado do voto acaba levando ao parlamento personalidades que vão servir interesses na maioria das vezes completamente descoladas dos interesses populares. Comprometidos com projetos políticos dos quais quase sempre está na contramão de quem os elegeu.
Cuiabano nascido nos anos setenta sua história pessoal confunde-se com a história das grandes transformações pela qual passou sua cidade. São jovens como ele que fundam aquilo que se costuma chamar a periferia das metrópoles. As dificuldades sociais e econômicas que enfrentaram não se distinguido das de qualquer outro jovem da periferia das grandes metrópoles brasileiras. É muito provável que ele tenha tido dificuldades em seu processo de escolarização, de empregabilidade e pra variar foi precocemente pai de uma criança.
Fragilidades econômicas que implicam em fragilidades políticas como esta envolvendo o vereador não contribui para o empoderamento político dos trabalhadores. O jovem trabalhador que deu seu voto para o Toto Cezar, e não importa a razão por que votou, e toma conhecimento das acusações que lhe estão sendo atribuídas passa a ter uma imagem na melhor das hipóteses muito negativa da liderança popular que conquistou um mandato no parlamento municipal.
Episódios como o protagonizado pelo vereador não colaboram para a formação de uma consciência política voltadas para os interesses do lugar social de onde saem essas lideranças. Lamento mas lamento mesmo o imbróglio em que está metido. Assistir esse processo de fragilidade política de uma jovem liderança popular nascida da dinâmica social da periferia é do ponto de vista político e pedagógico um momento de negação da educação política da juventude da periferia. O que esta acontecendo com Toto Cezar é ruim para o movimento social, é ruim para a democracia

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